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Os Irmãos Karamázov - Dostoiévski | PARTE I

9/6/2016

 
Esse texto corresponde aos livros I,II e III da primeira parte do romance de Dostoiévski.
Leia mais em: Abertura

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Karamázov ou Karamázovi (no plural): Nome forjado, composto provavelmente do substantivo Kara, castigo, punição; e do verbo mázat, sujar, pintar, não acertar. Seria simbolicamente aquele que com o seu comportamento desacertado provoca a própria punição. 

Rakítin numa conversa com Aliócha: "Eis sua definição e o fundo de sua natureza. Foi seu pai quem lhe transmitiu sua abjeta sensualidade [...] És, no entanto, um Karamázov! Na família de vocês, a sensualidade chega até o frenesi.

O que significa ser um Karamázov, afinal de contas? Segundo o trecho do próprio livro, é ser sensual no sentido de ser determinado e dono de suas próprias ações. É ser vivo, fugaz, valente, enamorador, galante, ter o sangue azul correndo nas veias. É não ter papas na língua e dizer o que bem entender, porque ser Karamázov é de certa forma ser respeitado. Porém eu digo mais. Digo que ser Karamázov é não saber ao certo o seu destino, mesmo em meio a tantas ações praticadas - intencionais ou não. O Karamázov está para a razão humana assim como cometer loucuras e não dar-se conta disso, porque exatamente o que Dostoiévski quis criar foi uma família totalmente disfuncional em meio a uma grande tempestade de consequências sentimentais e desacerbadas. 

Publicada inicialmente em 1879, Os Irmãos Karamázov é uma obra Russa do grande autor Fiódor Dostoiévski. O livro se tornou tão importante na literatura que até mesmo o grande psicanalista Sigmund Freud a considerada uma das três grandes obras mundiais que todos precisam conhecer um dia na vida (entre as outras estão Hamlet e Édipo Rei). A narrativa principal, contada através do ponto de vista de um narrador que não é tão confiável, vai tratar da história de uma conturbada família em uma cidade na Rússia. O patriarca da família é Fiódor Pavlovitch Karamázov, um palhaço devasso que subiu na vida principalmente devido aos dotes de suas duas mulheres, ambas mortas de forma precoce, e à sua mesquinharia. Com a primeira mulher tem um filho, Dmitri Fiodorovitch Karamázov, que é criado primeiramente pelo criado que mora na isbá ao lado de sua casa e depois por Miússov, parente de sua falecida mãe. Com a segunda mulher tem mais 2 filhos: Ivan e Aliêksei Fiodorovitch Karamázov, que são criados também por um parente da segunda mulher do pai de ambos. Ao passo que Ivan se torna um intelectual, atormentado justamente por sua inteligência, Aliêksei se torna uma pessoa mística e pura, entrando para um mosteiro na cidade.

Dostoiévski é um mestre na forma como constrói seus enredos, fazendo com que o leitor fique fisgado desde as primeiras linhas em conhecer seus personagens de uma maneira bastante minuciosa, o que nos provoca a conhecer cada um detalhadamente a ponto de desconfiar de seus atos praticados. Desde o início do enrendo que o autor nos faz conhecer a fundo a natureza dos Karamázov, principalmente do patriarca da família, um sujeito patético, detestável e que abandonou os filhos desde muito pequenos para poder usufruir de suas aventuras amorosas e vadias. Dostoiévisk nos faz odiar a esse homem, mas será isso um fato verossímil ou ele simplesmente nos manipula a ter uma desculpa futuramente para o que poderá acontecer? Não sei. Tudo é confuso e só temos que nos aprofundar na história conhecendo cada filho desse sujeito que aprendeu sozinho, ou com quem os criou, a verdadeira dor da vida real. É no primeiro livro da obra que o autor nos inicia a conhecer as características de cada um deles.  

Entre os filhos karamázov é possível distinguir três pontos distintos que fazem deles sujeitos diferenciados e ao mesmo tempo iguais. No mais velho, Dmítri, é possível enxergar sua ignorância e seu espírito de vingança motivado pelas desgraças do pai; no do meio, Ivã, sua inteligência é ao mesmo tempo sua dádiva e sua maldição, onde inúmeras vezes o enxergamos como que dominado pelos seus pensamentos e suas filosofias de vida. Somente Aliócha, o mais jovem dos três, é que parece ser o ponto de equilíbrio de toda essa família, onde a fé e sua devoção a religião o transformam em um sujeito consciente de seus atos, assim como também os dos que o rodeiam. Se pudêssemos de fato distinguir nossos personagens nesse ponto do romance, diria que Dimítre é o ponto auge da vingança que se estabelece dos conflitos entre eles e seu pai, seguido de Ivã que parece ser um sujeito maleável e que facilmente muda de ideias, enquanto que Aliócha parece ser bom, mas também teria motivos para entrar na mesma ideia de seus irmãos mais velhos. 

Mas por que Dostoiévski nos aponta o velho karamázov como um vilão? Ai fica a dúvida. 

É entre as longas conversas e os encontros bem peculiares entre irmãos e pai que vamos conhecendo minuciosamente os motivos que existem para que esse família não permaneça unida e constantemente esteja metida em confusão. O costurar do destino de cada personagem construído por Dostoiévski é manso e bem construído, o que realmente nos faz conhecer a fundo as motivações e os pensamentos de cada um. Profundamente psicológico, porque o autor nos faz cogitar a índole, os medos e as reviravoltas de cada um. Esse tipo de enredo é perigoso exatamente por nos provocar reações adversas sobre o destino daquilo que lemos. Então a única maneira de continuar a leitura é não confiar nesse narrador tão falso e modesto e esperar o que as próximas linhas podem trazer de tão misterioso. 

O livro I intitulado "História de uma família" é focada exatamente em nos apresentar essa família, porém Dostoiévski constrói inúmeros capítulos à parte, como era o costume dos romances daquela época, para tratar de assuntos críticos ou de pequenas opiniões do próprio autor. No livro II, "Uma reunião inoportuna", encontramos a família Karamázov numa situação bastante complicada, onde exatamente nesse ponto conhecemos que os problemas são realmente sérios entre ambos, além de nos acentuar o rancor pelo patriarca Fiódor. Já no livro III, "Os Lascivos", o autor nos dá uma pequena explicação dos motivos existentes entre os irmãos e seu pai, o que não poderia deixar de  incluí o envolvimento de conflitos advindos de paixões impossíveis. Além disso, Dostoiévski irá nos apresentar a religião bastante peculiar dos startzi do qual Aliócha faz parte. São capítulos e capítulos á parte para tratar sobre esse assunto, já que entre os três irmãos, Aliócha é o que mais se apega ao lado religioso da coisa, nos apresentando grandes discussões sobre esse tema. 

Ainda muita coisa irá acontecer daqui pra frente. Toda a complexidade da escrita do Dostoiévski ainda não está no seu auge e chegaremos a esse ponto auge do romance. Não é à toa que muitos consideram os Irmãos Karamázov como a obra magma do autor, onde ele conseguiu usar toda sua maestria na arte de escrever. Então vamos continuar adentrando nesse mistério delicioso. 
Por Rodolfo Vilar
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