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A Assombração da casa da Colina | Shirley Jackson

6/12/2018

 
    A casa da Colina, desprovida de sanidade, se erguia solitária contra os montes, aprisionando as trevas em seu interior; estava desse jeito havia oitenta anos e talvez continuasse por mais oitenta. Lá dentro, paredes continuavam de pé, tijolos se juntavam com perfeição, assoalhos estavam firmes e portas estavam sensatamente fechadas; o silêncio se escorava com equilíbrio na madeira e nas pedras da Casa da Colina, e o que entrasse ali, entrava sozinho.". 
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John Montague, Doutor em filosofia, antropologia e analista de manifestações sobrenaturais, resolve passar alguns dias no pior lugar para se estar de férias: A terrível Casa da Colina. Para isso ele irá precisar da ajuda de três assistentes especiais, voluntários selecionados a dedo que aceitam o convite tão estranho de um médico que os convida a largarem as suas vidas e o ajudar no experimento mais inusitado já feito: Analisar o que realmente pode acontecer durante as noites trancados dentro da casa considerada a mais assombrada do estado. Eleanor, Theodora e Luke, personagens peculiares dentro de uma história já tão peculiar, testarão ao máximo as suas crenças quanto a existência de atividades paranormais que possa existir dentro da mansão, e o que era para ser uma atividade de pesquisa para o professor Montague, pode se tornar um verdadeiro terror. 

Apesar de ter uma premissa até interessante, tenho certeza que aqueles que procuraram esse livro para leitura acabaram se frustrando quanto ao seu verdadeiro conteúdo, já que necessariamente ele promete demais e acabado entregando outra perspectiva para um leitor não avisado. Mas calma! Isso não significa dizer que necessariamente o livro é terrível de ruim, pelo contrário. Para aqueles que largarem a mão de esperar um livro recheado de cenas sangrentas, aparições de fantasmas, gritos e pau quebrando para todo lado, tenho certeza que encontrarão um enrendo até intrínseco, minimalista e íntimo ao ponto de cativar o leitor  - mesmo em meio a tantos diálogos desnecessários. 

Um dos pontos que mais me chamou a atenção no enredo de Shirley Jackson foi a ambientação que a autora conseguiu criar para captar a atenção do leitor, já que ela consegue de uma maneira bem visual e descritiva nos inserir dentro da perspectiva dos personagens e lugares. Posso até dizer que o ponto mais alto da história quanto a temática de terror que o livro tenta demonstrar é exatamente a atmosfera que nos é apresentada, já que a noção que o leitor têm é de que a casa parece estar viva ao ponto de nos convidar a conhecê-la. Ai é que está, porque é exatamente A Casa que parece ser a personagem principal da história, porque depois da importância da única personagem principal do livro (a Eleanor), o outro único ponto que nos foca o interesse é descobrir mais sobre a casa em si. Os cômodos, as descrições de ambiente, as sensações causadas aos personagens, são o resumo principal do que A Assombração da casa da colina nos quer passar, e é exatamente isso que vale a pena a leitura. 

Talvez pela bagagem que a nossa geração atual carrega quanto ao gênero de terror, o fato do livro tratar-se mais de um enredo de ambientação pode ter causado no leitor de um sentimento de promessa não entregue. Não é à toa que por ter sido escrito em 1959, e principalmente por uma mulher, o livro tenha se tornado um destaque de leitura durante a sua época e tenha sido aclamado por outros autores tão importantes como Stephen King e Neil Gayman. Para aqueles leitores bem trashs (tipo eu), o livro pode ser um convite para aqueles que queiram curtir a nostalgia de histórias de terror menos sangrentas e com uma pegada mais psicológica, já que o livro é exatamente sobre a questão do papel da sanidade mental como dosadora de nossa própria realidade. A leitura do livro só me fez lembrar de quando o conheci através de suas inúmeras adaptações (A casa da colina, A Casa Amaldiçoada, A Casa Maldita e etc), o que me trouxe aquele velho gostinho dos filmes do início dos anos 2000. Fica aí a dica para aqueles que gostam de uma boa nostalgia 


Por Rodolfo Vilar

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A PESTE | ALBERT CAMUS

6/6/2018

 
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Nunca imaginei que pudesse existir um livro que me deixasse mais em dúbia dúvida que A Peste do querido Camus. Digo isso porque simplesmente ler Camus é uma experiência que te leva do êxtase a repugnância, e isso em meras poucas páginas de diferença. Com o livro 'A peste", a minha primeira experiência com o autor, esse sentimento não poderia ser diferente. 

Publicado em 1947 e tendo sido escrito durante a Segunda Guerra Mundial, A Peste conta a história da população de Oran, uma pequena cidade da Argélia, que subitamente é acometida pela peste, onde os ratos começam a aparecer mortos e logo em seguida até mesmo as próprias pessoas sentem na pele o drama e calamidade da fatal doença. Acompanhando a visão do médico local, o doutor Rieux, vamos adentrando os locais menos habitados da cidade tão pacata, conhecendo a fundo os personagens que circulam pela história, assim como os dramas pessoais e tão bem descritos pelo autor. De maneira bastante gráfica, Camus consegue nos mostrar uma visão aterradora sobre as consequências da morte. A cidade tão calma passa então a entrar em pânico, ficando primeiramente isolada do resto das demais cidades, onde a própria população será obrigada a se reinventar para continuar a vida como se nada tivesse acontecido. 

De uma maneira geral a obra de Camus é uma verdadeira interpretação sobre o caos se estabelecendo, e claro, como o próprio caos pode passar a ser uma rotina e levar uma população ao estado de acostumar-se com a situação tão inusitada. Em suma: As pessoas se acostumam com tudo. Outro fator interessante é que muito dizem que a obra trata-se de uma simbologia ao período de invasão dos nazistas, levando o autor a admitir que seu conteúdo trata-se realmente de uma analogia a resistência da invasão hitleriana. Ou seja. a peste (os invasores) como algo irreal dentro de um cenários de calma, onde passa então a haver o caos que pode ser tratado como algo comum. 

Outro ponto importante sobre o livro é como a morte é tratada, já que cruelmente os indivíduos contidos no enredo percebem que ela chega de uma maneira não natural, mas sim gratuita e violenta, passando então a ser tida como um ponto de partida a ser decidido como destino final imprevisto. Como o próprio Clayton Melo diz em seu artigo cientifico "Trata-se de um romance que coloca o homem frente à situação-limite que mais o assusta: a morte, não como resultado do ciclo da existência, o que é natural, mas trágica, dolorosa, com sofrimento. E mais: gratuita, um capricho cruel que surge repentinamente, impondo um fim gradual e pavoroso. Dada sua onipresença e força simbólica, a morte é uma personagem nesse livro da separação e da esperança.". 

De modo geral o livro do Albert Camus, que passei então a tratá-lo por igual como alguns dos autores mais importantes da modernidade, é um livro reflexivo do ponto de vista humano, fazendo de sua literatura uma profunda reflexão importante sobre os aspectos da vida. Apesar das terríveis descrições da doença assolando a população (não conseguirei superar o capítulo com aquela pobre criancinha), é exatamente cenas como essas que nos despertam ao senso crítico e nos faz refletir sobre o sentido da vida, a superação dada pelo caos e a reinvenção não somente de um novo cotidiano, mas sim também do próprio jeito de olhar o outro e entender mais sobre as relações humanas. Um livro maravilhosos que merece muito mais que uma recomendação, mas sim o título de um belo exemplar de literatura universal contemporânea. 

​Por Rodolfo Vilar 


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AVENTURA IV | A ODISSEIA DE HOMERO

6/4/2018

 
Atenção! O texto pode conter revelações sobre a obra. 

Para ler os textos anteriores clique aqui
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Enfim chegamos ao fim de nossas aventuras! O que é triste, já que boa parte dessa viagem foi uma prazerosa descoberta na narrativa de Homero. Mas também há um lado positivo, em que quebramos um tabu ao sair apenas das narrações terceiras da Odisseia, assim como também apenas de sua leitura infantil. Nessa quarta e ultima parte, conhecemos o desfecho de nosso herói, assim como também descobrimos certas características que especificam o fim para alguns personagens, como a própria Penélope, que para mim tornou-se um mito de personagem feminina a sofrer os males masculinos do mundo na qual vive. Encerramos aqui o nosso especial sobre A Odisseia com apenas mais um gostinho em conhecer mais dos clássicos gregos. 

SOBRE O ENREDO

Parte XIX: Odisseu aproveita a chance para falar com Penélope e contar, como mendigo, que viu Odisseu em suas jornadas e que sim, esse está voltando para casa. Agraciada pela notícia e pelas previsões de vingança do Mendigo, Penélope pede as criadas que dêem banho nele. No momento do banho a criada reconhece Odisseu pela cicatriz, mas esse pede cautela a ela para não contar aos demais já que pode também criar pena pelas criadas e as salvar da vingança.


Parte XX: Perto de completar a sua vingança, Odisseu sente-se em fúria incontrolável, tendo que somente a deusa Atena conseguir lhe acalmar. Os pretendentes de Penélope agora estão muito mais debochados, o que faz com que Odisseu apenas aumente a sua fúria.

Parte XXI: Enfim Penélope cansada da labuta pós pretendentes, propõe que aquele que conseguir manusear o arco de Odisseu, lançar fecha que trespasse os machados do salão com destreza, conseguirá sua mãe e as posses de sua casa. Após alguns tentarem e não conseguirem, o porqueiro Eumeu estende o arco ao mendigo Odisseu que com prodígio lança a flecha com precisão, mostrando enfim quem é de verdade.

Parte XXII: Enfim mostrando quem é de verdade, Odisseu mata os pretendentes com flecha, espada e luta corporal. Dando piedade aos que deveriam se ver livres e fim aos maus que afligiram a sua família. No fim, até as próprias servas são mortas para vingar quem os traiu.

Parte XXIII: Acabada a vingança, Penélope fica incrédula ao ver Odisseu, onde apenas o reconhece depois de fazer pequenas provas de sua confiança. A noite, na cama de núpcias, Odisseu conta as aventuras a mulher até o sono não chegar. Quando pela manhã ele incita seu filhos e companheiros a o seguirem até a casa de seu pai. ​
 
Por fim percebe-se um fim um tanto poético e apocalíptico para Odisseu, já que boa parte de suas profecias são cumpridas conforme narradas em contos anteriores. É como se a própria história se confirmasse. 



Por Rodolfo Vilar
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