BIBLIOTECA
Cipriano Algor, oleiro de profissão, sente-se desnorteado ao ser notificado que suas peças de barro não configuram mais como produtos de venda do grande Centro da cidade do qual nosso personagem vive a margem. Sendo rejeitado pelo comércio local, só resta a Cipriano, junto com sua filha, usar da mesma profissão e começar a confeccionar bonecos de barro para tentar ganhar o seu sustento. Durante todo esse enredo, enquanto acompanhamos a luta pelo personagem em adequar-se a realidade, também compartilhamos da escolha da família em ir morar no tal centro no dia em que seu genro, guarda residente do grande shopping Local, consegue ser qualificado a um novo posto de trabalho.
Depois que ganhou o prêmio Nobel em 1998, muitas expectativas pairavam em José Saramago quanto a qual seria o seu mais famoso romance a ser publicado. Para alguns, A Caverna é nada menos que um livro morno e monótono onde apenas se acompanha a trajetória de um homem a procura de seu lugar a sociedade. Para outros, como o meu caso, a surpresa em conseguir ler uma obra que toma forma a partir de outro grande clássico da literatura filosófica é uma das dádivas que somente Saramago consegue criar: transformar uma metáfora numa realidade moderna. Platão em seu livro “A República” nos mostra a fábula da Caverna, onde um grupo de indivíduos vive as escondidas do mundo, fazendo das sombras refletidas no fundo dessa cavidade a realidade que julgam ser necessária para a compreensão da verdade. Trazendo à tona numa modernidade surpreendente, Saramago irá nos mostrar a “Nova caverna” em quer habitamos, ou seja, a tecnologia e as revoluções de um mundo moderno em que habitamos, nos fazendo enxergar aquilo apenas no qual devemos acreditar. A grande questão de Saramago é fazer com que o seu personagem, um oleiro que mora numa cidadezinha do interior, saia de sua conformidade (sua caverna) e corra atrás de seu espaço na sociedade em que se impõe. Porém fica o questionamento: A caverna é a sociedade ou o sujeito precisa sair de sua caverna? Num romance singelo, no seu próprio tempo e sempre brincando com a linguagem, Saramago consegue mais uma vez estudar a realidade que sempre o assolava em seus próprios apontamentos: O sujeito prisioneiro na sua própria evolução, sendo tomado cada vez mais pelo tempo que o assombra. por Rodolfo Vilar.
0 Comments
NAVEGUE POR CATEGORIAS!Para facilitar sua procura, busque abaixo na lista o nome do autor que você procura. AUTORES
All
NÃO TEM O SEU AUTOR AQUI? NOS INDIQUE LEITURAS!Se você procurou algum título ou autor e não encontrou aqui, deixe-nos sua indicação através de um dos links abaixo. No e-mail, nas redes sociais ou nos comentários
CONHEÇA TAMBÉM:Para entrar em contato conosco, utilize o link abaixo e preencha seus campos de email.
ARQUIVOS
April 2021
|