BIBLIOTECA
Minha experiência com Caio Fernando Abreu é um tanto esquisita, já que tratou-se de uma relação de muitas idas e vindas. Tudo começou com os meus 16-18 anos, onde sem planos deparei-me com o exemplar de “Morangos Mofados” enquanto garimpava a biblioteca da minha cidade. O título chamou-me a atenção, assim como também a capa um tanto mórbida e cheio de sombras da silhueta do autor um tanto misterioso. Porém naquela idade, onde, digamos, estava ainda descobrindo-me como pessoa, como protagonista de minha própria vida e alheio as experiências que começavam surgir, senti-me totalmente estranho a um sujeito como Caio Fernando Abreu, onde falava abertamente sobre seus monstros, seus tormentos e sua vida um tanto peculiar para minha época e vida. Aquilo era estranho aos meus olhos, aquela liberdade era aterradora para mim que ainda não a conhecia tão completamente. Fiquei triste, mas o abandonei, sabendo que precisava de um certo tipo de maturidade para entender um livro tão acima de mim. Ano passado, nas empreitadas do projeto “Raízes: Lendo brasileiros” que criei para o Bodega Literária com o intuito do incentivo à leitura de títulos nacionais, o livro novamente surge em minhas mãos, dessa vez não somente como uma meta a ser cumprida, mas sim também como uma barreira a ser ultrapassada. A certos autores que causam um certo tipo de preconceito somente pela forma como outras pessoas o tratam ou o criticam (Como Paulo Coelho, Augusto Cury e antes o caso de Caio Fernando Abreu). Sempre ouvia falar de Caio F. Abreu através de suas diversas (e às vezes falsas) frases jogadas pelo mundo virtual das redes sociais ou sendo usadas de forma erronia em legendas de fotos esdruxulas. Foi exatamente essa a barreira que tive que ultrapassar e foi exatamente essa quebra de tabu que me fez conhecer um dos melhores autores de contos e crônicas modernas que já conheci. Já conhecendo o autor através de suas incríveis narrações de causos e prosas através da leitura anos atrás de “Morangos Mofados”, não fiz caso quando a editora Companhia das Letras me disponibilizou para leitura o seu recente lançamento de “Caio Fernando Abreu – Contos Completos”, livro que reúne toda a prosa breve do autor mais visceral da contracultura brasileira. Nesse livro, que tem mais de setecentas páginas, conhecemos um autor que foi longe ao seu tempo, mas que também marcou boa parte dos anos 80, época essa dita como a mais sombria da literatura brasileira. Nessa reunião dos contos do Caio Fernando, leremos suas obras publicadas entre os anos de 1970 a 1990, onde reflete o período autoritário e sombrio dos anos de chumbo de sua existência, já que durante toda sua carreira ele usou da literatura como forma radical e combativa dos moldes que eram aplicados a intelectualidade da época. Quem lê as obras de Caio Fernando conhece não somente a forma genial como ele escrevia, mas também um pouco de sua vida pessoal que tanto reflete nas histórias abordadas pelo autor. São sempre personagens que vivem a margem da sociedade, pessoas que sofrem de algum tipo de controle externo ou características que denotam os seus autores favoritos como Clarice Lispector, Hilda Hilst, Lygia Fagundes Telles ou outros grandes nomes do estilo de construção através do fluxo de consciência. Em “Contos completos” vemos reunidos as seguintes obras: Inventário do Ir-remediável (1970), O ovo apunhalado (1975), Pedras de Calcutá (1977), Morangos Mofados (1982), Os Dragões não conhecem o paraíso (1988) e Ovelhas Negras (1995). Além disso a coletânea traz contos avulsos que foram publicados em revistas ou jornais literários, assim como três contos exclusivos nunca antes publicados. A obra de Caio Fernando Abreu é uma expressão maciça do autor sobre sua própria liberdade de escrever, já que para ele isso resumia o sentido de sua vida, já que imensamente ele torna-se tão prolixo na criação de tanto conteúdo como o artista que foi. Ler Caio Fernando Abreu é conhecer na literatura um pouco sobre amor e ódio, paz e rebeldia, luz e claridão, felicidade e depressão, tudo resumido e explicitado tão bem em suas belíssimas palavras. Por Rodolfo Vilar
0 Comments
NAVEGUE POR CATEGORIAS!Para facilitar sua procura, busque abaixo na lista o nome do autor que você procura. AUTORES
All
NÃO TEM O SEU AUTOR AQUI? NOS INDIQUE LEITURAS!Se você procurou algum título ou autor e não encontrou aqui, deixe-nos sua indicação através de um dos links abaixo. No e-mail, nas redes sociais ou nos comentários
CONHEÇA TAMBÉM:Para entrar em contato conosco, utilize o link abaixo e preencha seus campos de email.
ARQUIVOS
April 2021
|