BODEGA LITERÁRIA

BIBLIOTECA

Me Chame pelo seu nome e me diga se gostou ou não | André Aciman

3/9/2018

 
Imagem
É necessário odiar ou amar o livro. É necessário ter nem que seja um pequeno ponto de vínculo entre a obra e o leitor, porque é necessariamente nesse intervalo de personas que se descobre um elo tão ínfimo de relacionamento que é possível confundir realidade com ficção.

Em Me chame pelo seu nome é possível, ao mesmo tempo, amar e odiar o seu conjunto, já que todo o seu potencial está impregnado de uma casca que aos poucos vai sendo arrancada camada por camada até se descobrir uma história envolvente, original e diferente das muitas outras coisas iguais que já rolam por aí.

Lançado em 2007 nos Estados unidos e chegando no Brasil somente em 2018 após o lançamento do filme adaptado para os cinemas, Call me by your name de André Aciman é um renomado romance LGBT ambientado na Itália dos anos 1980, numa pequena região litorânea usada por muitos profissionais como refúgio para seus trabalhos e composições. Os próprios pais de Élio, um dos principais personagens do livro, acomoda forasteiros em troca de serviços pessoais. Um desses sujeitos visitantes é o professor de filosofia Oliver, que com 25 de idade e concluindo sua tese de doutorado, refugia-se na Itália para revisar seu livro, onde além disso terá o mais surpreendente caso de amor de verão com o singelo Élio.

Cheio de personagens característicos, o livro é perfeito para quem se apega a determinados detalhes: o próprio Élio que com apenas 16 anos se mostra um jovem autodidata, ouvinte de música clássica e instrumentista; seus pais, um casal a frente de sua época é um tanto liberalistas quanto as atitudes de seu filho; e o próprio professor Oliver, carismático, misterioso e muito filosófico em seus discursos. O livro tende a se mostrar muito mais interessante aos personagens que circulam aqueles que são principais, já que esses demonstram suas peculiaridades de diferentes formas. Aos poucos, em meio a uma atmosfera misteriosa e sedutora, Élio e Oliver veem-se ligados um ao outro de uma forma singela, sexual e apaixonante, captando a emoção do leitor que se embrenha nesse caso junto as deliciosas paisagens italianas. A história em si nada mais é que a história do desabochar da sexualidade.
​
Aqui já entregamos o final desta resenha para os leitores, a obra de André Aciman é uma mescla de amor e asco, mas que de maneira alguma fará o leitor abandonar a vontade de se fazer gostar. Essa mescla de sentimentos que perpassa a narrativa forma um peculiar jogo de oposição; demonstra toda a força daquilo que nos faz humanos. Pensar sobre esses sentimentos exige que deixemos de lado todo o conhecimento que possuímos de lado, para que assim construímos uma nova visão sobre esses opostos.
Imagem
Amor. O que é o amor?

Camões foi muito sábio ao afirmar que o mesmo é um fogo que arde sem ver. Que é uma ferida que dói e não sente. O amor ao qual o poeta lusitano canta é belo, um jogo de imagens opostas. Na lírica camoniana, a dualidade do amor é expressa de forma exemplar, alcançando assim, a essência do mais complexo dos sentimentos, que provoca em nós, meros mortais, prazer e sofrimento.

O amor é um sentimento universal que perpassa a existência humana. Buscamos de maneira natural vivenciar o amor, principalmente o amor romântico. Élio demonstra o quanto somos românticos ao narrar o tórrido e caloroso amor que sente por Oliver. Todo esse sentimento que é visualizado em suas palavras, causa em nós leitores reconhecimento. Todos nós somos românticos por natureza. Contudo, o amor que o nosso protagonista denota é exacerbado, causa incomodo. Em alguns momentos, causa um sentimento de asco.

O asco não exprime somente um sentimento de nojo ou ojeriza. Na obra de Aciman ele representa o incomodo, desconforto, irritação; desconcerto. Ao longo da narrativa, o asco se apresenta das mais variadas formas. Seja nas primeiras páginas, com a narração imatura de Élio, que nos leva a crer que iremos ler o relato de um garoto apaixonado. Seja na famosa cena do pêssego, aclamada por alguns, odiada por outros e vista como extremamente desnecessária para algumas pessoas.

Me chame pelo seu nome é uma obra boa, com uma história bem desenvolvida, no entanto, não é a maravilha que algumas pessoas estão retratando. Ela tem muitos pontos positivos, mas tem muitos pontos negativos. O próprio fato dela nos fazer amá-la e odiá-la merece uma certa cautela. Não podemos nos esquecer que a obra de Aciman é narrada por Élio em primeira pessoa. Um narrador assim não é confiável (vide Dom Casmurro de Machado de Assis), pois toda a história se passa somente pela sua perspectiva. Mesmo estando no terreno da ficção, não podemos distinguir o que de fato é verdade e o que é mentira.

Nos tempos sombrios em que vivemos, ver uma obra que retrata um romance entre dois homens aquece nossos corações e reacende a fagulha da esperança. Apesar dessa relação de amor e ódio, Me chame pelo seu nome vale a pena ser lido, relido nós já não temos certeza. Por enquanto, temos em mente que essa obra é uma grande antítese, que irá provocar um misto de sensações e sentimentos. Para nós, amor e asco é a antítese central da obra.
E você amigo leitor, qual antítese representa Me chame pelo seu nome?


Por Leonardo Júnior e Rodolfo Vilar
0 Comentários

    NAVEGUE POR CATEGORIAS!

    Para facilitar sua procura, busque abaixo na lista o nome do autor que você procura. 

    AUTORES

    Todos
    Agatha Christie
    Albert Camus
    Alice Walker
    Amanda Lindhout
    Andre Aciman
    Andre Gorz
    Andy Weir
    Antoine De Saint-Exupéry
    Bernard Cornwell
    Caio Fernando Abreu
    Chad Kultgen
    Charles Bukowski
    Charles Dickens
    Chinua Achebe
    Chris Cleave
    Clarice Lispector
    Dan Gemeinhart
    Daniel Galera
    DesafioInfinito
    Donna Tartt
    Dostoiévski
    Douglas Adams
    Dyonélio Machado
    Edgar Alan Poe
    Elizabeth Strout
    Enrique Vila Matas
    Erico Verissiimo
    Ernest Hemingway
    Felipe Barenco
    Fernanda Montenegro
    Fernando Gabeira
    Flanerry O'connor
    Fred Vargas
    F. Scott Fitzgerald
    Gabriel Garcia Marquez
    George Bataille
    George Orwell
    George R.R. Martin
    Graciliano Ramos
    Gregório Duvivier
    Henry James
    Herman Melville
    Hermann Hesse
    H.G. Wells
    Hilda Hilst
    Holly Black
    Homero
    Ilana Casoy
    J K Rowling
    João Guimarães Rosa
    João Guimarães Rosa
    João Ubaldo Ribeiro
    Joaquim Manuel De Macedo
    John Banville
    John Green
    John Steinbeck
    Jorge Amado
    Jorge Luis Borges
    Jose De Alencar
    Jose Lins Do Rego
    Joseph Heller
    José Saramago
    José Saramago
    Júlio Verne
    Karl Ove Knausgard
    Ledo Ivo
    Léonor De Récondo
    Lev Tolstói
    Lev Tolstói
    Ligya Fagundes Telles
    Lisa Genova
    LS Hilton
    Luciana Pessanha
    Lyra Neto
    Machado De Assis
    Margaret Atwood
    Michael Cunningham
    Michelle Falkoff
    Natalia Ginzburg
    Nelson Rodrigues
    O Hobbit
    Olga Tokarczuk
    Peter Straub
    Philip Roth
    Pierre Boulle
    Rafael Montes
    RAUL POMPEIA
    Ray Bradbury
    Robert Louis Stevenson
    Samantha Hayes
    Sarah Butler
    Seth Grahame Smith
    Shirley Jackson
    Silvia Plath
    Stefan Zweig
    Stella Caymmi
    Stephen King
    Susan Hill
    Susanna Clarke
    Suzzane Collins
    Taiye Selasi
    Thomas Mann
    Tolkien
    Victor Hugo
    Vinicius De Morais
    Virgínia Woolf
    Virgínia Woolf
    William Faulkner
    William Gibson
    William P. Blatty

    Feed RSS

    NÃO TEM O SEU AUTOR AQUI? NOS INDIQUE LEITURAS! 

    Se você procurou algum título ou autor e não encontrou aqui, deixe-nos sua indicação através de um dos links abaixo. No e-mail, nas redes sociais ou nos comentários

    CONHEÇA TAMBÉM:

    JOSÉ SARAMAGO
    -  KARAMÁZOV    -
    DESAFIO INFINITO
    --    ODISSÉIA     --
    Para entrar em contato conosco, utilize o link abaixo e preencha seus campos de email.

    ARQUIVOS

    Dezembro 2020
    Novembro 2020
    Outubro 2020
    Setembro 2020
    Agosto 2020
    Julho 2020
    Junho 2020
    Maio 2020
    Abril 2020
    Março 2020
    Fevereiro 2020
    Janeiro 2020
    Dezembro 2019
    Novembro 2019
    Outubro 2019
    Dezembro 2018
    Novembro 2018
    Setembro 2018
    Agosto 2018
    Junho 2018
    Maio 2018
    Abril 2018
    Março 2018
    Fevereiro 2018
    Janeiro 2018
    Dezembro 2017
    Outubro 2017
    Setembro 2017
    Agosto 2017
    Julho 2017
    Maio 2017
    Abril 2017
    Fevereiro 2017
    Janeiro 2017
    Dezembro 2016
    Novembro 2016
    Outubro 2016
    Setembro 2016
    Agosto 2016
    Julho 2016
    Junho 2016
    Maio 2016
    Abril 2016
    Março 2016
    Fevereiro 2016
    Janeiro 2016
    Dezembro 2015
    Novembro 2015
    Outubro 2015
    Setembro 2015
    Agosto 2015
    Julho 2015
    Junho 2015
    Maio 2015
    Abril 2015
    Março 2015
    Fevereiro 2015
    Janeiro 2015
    Dezembro 2014
    Novembro 2014
    Outubro 2014

Powered by Create your own unique website with customizable templates.
  • BODEGA LITERARIA
    • BIBLIOTECA
    • PROJETOS >
      • DIÁRIOS DE LEITURA
      • RAIZES LENDO BRASILEIROS >
        • Raízes: Lendo Brasileiros (2016)
        • Raízes: Lendo Brasileiros (2020)
      • Saramago: Uma inspiração
    • BODEGAWEEN
    • Epi Logo Existo
    • A BODEGA
  • BODEGA LITERARIA
    • BIBLIOTECA
    • PROJETOS >
      • DIÁRIOS DE LEITURA
      • RAIZES LENDO BRASILEIROS >
        • Raízes: Lendo Brasileiros (2016)
        • Raízes: Lendo Brasileiros (2020)
      • Saramago: Uma inspiração
    • BODEGAWEEN
    • Epi Logo Existo
    • A BODEGA