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Não, eu não odiei esse livro, muito pelo contrário. Tudo bem que todos se espantam com seu tamanho, com seu início um pouco foram do comum, com os comentários daqueles que te pegam lendo (Nossa, você está lendo isso? Arhg!), mas foi exatamente essa contrariedade que fez com que o livro se tornasse uma experiência mais construtiva, fazendo dessa obra uma das minhas melhores leituras. A história que se inicia num tempo presente, onde os fatos narrados por Theo Decker constroem uma narrativa não tão fiável de confiança, nos leva pela narração a um passado distante, quase ou mais de trinta anos antes, no momento em que ele, Theo Decker sendo o personagem principal, quando criança, vai a um passeio ao museu nova iorquino com sua mãe, onde é acometido por um atentado terrorista que devasta a sua vida drasticamente. Esse fato principal, o atentado terrorista, torna-se o motim para que diversos fatos aconteçam: Theo perca a mãe, ele passe a morar com seu pai que não o vê há muito tempo, várias amizades incomuns aconteçam e uma pintura especial acabe parando em suas mãos: O Pintassilgo. Não quero aqui me deter no enredo da história, já que basicamente ela se trata sobre a vida de um garoto órfão que vai acabar passando de família em família pelos subúrbios de Nova York até sua fase adulta, onde praticamente vê-se diante de um destino que, por incrível que parece, está mais entrelaçado do que ele imagina. São essas fases de mudança que criam um aspecto particular a história, não somente porque os personagens mudam, mas sim porque eles ganham uma vida como eu nunca tinha presenciado antes. Mas eu me pergunto: por que as pessoas odeiam tanto esse livro? Será o seu tamanho anormal? Será o plot inicial, um menino às avessas que deixa sua mãe morrer num museu desolado, o que torna a história um pouco sem sentido? Ou simplesmente porque essas pessoas que reclamam não conseguem adentrar tão bem dentro da história? Os personagens de Donna Tartt crescem e pulam das páginas conforme a leitura avança. Você os ama e ao mesmo tempo os odeia, assim como na vida real, afinal de contas ninguém é perfeito, tão pouco personagens. Esse é um ponto alto do livro, fazer com que os seus personagens não apenas transitem, mas se deixem ir além das páginas, das características, crescendo por contra própria, como o tempo, medido pelo rolar do papel, fazendo o mesmo que a vida faz conosco na vida real. Os cenários são extremamente construídos, não só pela descrição feita pelo personagem Theo, mas sim também pela experiência que ele tem com o espaço: o cheiro do lugar, as lembranças que tal coisa remetem a sua vida, a importância histórica e fictícia que se enlaça no enredo. Não é a toa que várias páginas são um verdadeiro delírio da configuração de espaços e sensações. Donna Tartt consegue muito bem criar não somente lugares que transmitam a sensação de norteamento, como também criar personagens que ajudam nesse sentido de orientação. A filosofia que costura o livro não é somente um pano de fundo, mas sim a essência do livro, que nos transmite exatamente a construção da ideia central do livro, que nesse enredo se designa pelo sentido da vida, o destino da morte e o sentimento de falta, que impregna tão bem o personagem principal que o torna a própria personificação de tais sentimentos e sensações. Foram várias as passagens sublinhadas ao decorrer da leitura, e não será somente uma leitura a reveladora de únicas passagens, porque o livro todo é um espetáculo de reflexão. A própria revista Vanity Fair, que estampa uma crítica no verso do livro diz que “O pintassilgo é um livro sobre a arte em todas as suas formas...” e é exatamente isso, não somente a ganancia pelo físico em termos de arte, mas sim uma ganancia que parte da profundidade da arte como apreciador, aquele tipo de apreciação que nos muda a vida, muda a forma como enxergamos o mundo. Então por fim, depois de estarmos tão envolvidos na vida de tantos personagens, só nos resta chegar ao fim da leitura, o que para alguns pode ser algo empolgante, ou para outros uma perca de tempo. Tenho fé que as pessoas cheguem ao fim desse livro se sentindo outras pessoas, enxergando o mundo de outra forma, sentindo o peso da leitura sobre os ombros e pensando: Não foi uma leitura em vão. Eu adoro que odeiem esse livro, porque só assim ele se torna mais especial, porque de forma única ele fez um sentido tremendo no meu momento de leitura. O que deixo não é uma indicação, mas sim um afeto em dizer que leituras complicadas ou mais difíceis podem se tornar uma experiência tão marcante que nos tornam em outros leitores. Então sim, leiam O Pintassilgo. Por Rodolfo Vilar NAVEGUE POR CATEGORIAS!Para facilitar sua procura, busque abaixo na lista o nome do autor que você procura. AUTORES
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April 2021
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