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Sagarana (ou a experiência de um leitor que achou que encontraria algo que não achou) | João Guimarães Rosa. 

10/25/2016

 
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Será um pouco impossível encontrar informações relevantes sobre o livro que dá título a este post, uma vez que isto que você está lendo irá se tratar mais de um momento de experiência do que propriamente uma resenha válida. Desculpa se o tom desse texto permear para um lado tanto dramático ou meloso sobre alguns fatos que me decepcionaram, e não, não se trata de decepção relacionada ao livro, mas sim sobre os inúmeros boatos e críticas que me acompanharam antecipadamente à leitura de Sagarana do ilustríssimo João Guimarães Rosa.

Há muito tempo que esse pequeno (sim, ele é pequeno) livro de contos (ou novelas) está na minha lista de leituras, e nunca que havia criado coragem para lê-lo, por motivos de: Nossa, que livro difícil de ler! Impossível encarar um livro com uma linguagem tão rebuscada como o do Guimarães! Não consigo entender o que diabos esse autor quer passar nos seus textos! Não, definitivamente esse livro não faz meu estilo! Que droga, só consegui ler O caso do Burrinho Pedrês.
Balela, balela e balela!

Tudo bem que Guimarães é bem especifico em seu estilo narrativo, mas dizer que ele inventou uma nova linguagem para seus livros é fazer drama demais. O que acontece nas obras de Guimarães Rosa nada mais é que uma réplica narrativa dos inúmeros “causos” e histórias que ele tanto ouviu na sua própria infância como também nas experiências que passou para coletar panos de fundo para seus romances. A linguagem narrativa de Guimarães é uma réplica exata do modo de falar do povo nordestino, o que para muitos, principalmente para aqueles que não estão acostumados com nossos trejeitos (sim, porque me incluo no sangue nordestinês) é algo estranho de ser lido e compreendido de maneira tão rápida e veloz.

Ler Sagarana, que apenas se resume em nove novelas sobre algumas histórias, folclóricas ou não, sobre os “causos” de alguns moradores do interior baiano e mineiro, foi uma maneira de recuperar, em mim, vários momentos que tive com meus avós e minha gente mais velha. Ler Sagarana foi estar de volta ao sitio onde passei alguns momentos de minha infância nas férias, ouvindo minha gente contando seus momentos mais preciosos, seus casos cabeludos, suas histórias de vingança e fé. Ler Sagarana foi resgatar uma parte do meu espirito folclórico e cultural. Foi lembrar-se das minhas origens e do meu povo, do povo nordestino, das muitas vozes que dão importância ao que o Brasil, e principalmente o interior, é.

O que muitos podem achar complicado na leitura dos livros de Guimarães Rosa, assim também presentes em outros autores como José Saramago, é a imensidão da polifonia incontável de seus personagens, o que dá o volume da narrativa do mineiro. Além das virgulas, travessões e demais pontuações, Guimarães Rosa incorpora a voz do interior aos seus enredos, fazendo com que pessoas, lugares, animais em alguns casos, se tornem a própria história em si. Para aqueles que estão acostumados com muitas das narrativas já desgastadas de inúmeros best-sellers, ler os escritos desse autor é uma tarefa que foge da rotina, já que Guimarães tinha o grandiosíssimo trabalho de interpretar em seus manuscritos a forma vívida da qual ele enxergava as coisas pulsantes de vida.

​Por isso que lá no inicio desse texto comecei deixando transparecer a minha reclamação quanto a imensidão das críticas, sem lógicas, que fazem do pobre Guimarães. Não culpem a grandiosidade do autor com a imensidão da preguiça que possa existir dentro de cada um que achou seus textos enfadonhos e sem sentido. Ler Guimarães Rosa é entender um pedaço do próprio sertão que o autor carregava dentro si, perante seus olhos e diante de seus sentimentos. Acompanhar as leituras do ponto narrativo desenfreado, que é a forma como o nordestino conta os seus “causos”, é conhecer as mil faces do sertanejo que encara por dia a questão da seca de sua terra, a preocupação com a família, a fé exagerada que ultrapassa a razão, a moralidade dos costumes que fogem questões do certo ou errado, e até mesmo, a forma da felicidade com que o sertanejo enxergava a sua terra, seu povo, seu lar. Pegue em mãos qualquer livro do Guimarães com o sentido de que você estará lendo a forma de enxergar o sertão de nós todos de uma forma esperançosa, culturalmente rica e cheia dos caprichos que só a natureza (e Deus) podem oferecer. 
Por Rodolfo Vilar
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