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O Duplo - Dostoiévski8/17/2017 Uma das últimas resenhas aqui para o blog foi para o livro "O Homem Duplicado" do José Saramago (Que você pode ler clicando aqui) , uma leitura profunda, confusa, cheia de detalhes e que fala intrinsecamente sobre a alma humana e seus desejos mais escondidos, onde realidade e fantasia se confundem numa busca que envolve filosofia e vida. Após analisar e procurar mais informações sobre o livro, me deparo com o link de que essa obra do Saramago foi nada menos que comparada a um grande clássico do Dostoiévski , "O Duplo", o que possivelmente tenha sido uma das grandes inspirações para Saramago, já que ele era leitor assíduo do russo. Sabendo disso e também sendo fã do velhinho de boas histórias, resolvo ir atrás do título e me deparo com um livro bastante peculiar e interessante. O Duplo de Dostoiévski foi sua segunda grande obra publicada que veio ao mundo e que com ela também veio várias expectativas, já que nesse período de tempo Dostoiévski já era considerado um grande autor pelos seus fãs, isso incluindo toda a elite da época. Nesse livro, como em todos os seus outros, o autor se revela com maestria para tratar do comportamento humano, da mente e da consciência do personagem, já que detalhadamente, como uma lupa, somos levados a interpretar as ações de suas personagens em meio ao casos em que eles convivem, sejam elas relações amorosas, de ódio, dúvida ou qualquer que seja. Dostoiévski faz desse brincadeira de entrar na mente do personagem apenas um ensaio para grandes obras que viriam posteriormente, como Crime e Castigo, Os Irmãos Karamázov (também tem post sobre ele aqui) e etc.. Em O Duplo, além de analisar o comportamento de um sujeito bastante estranho, somos conduzidos a entender também as relações que eram mantidas pela sociedade daquela época, o que nos esboça um excelente retrato da diferença social entre pobres e ricos, pessoas com e sem poder. A leitura de tal livro é uma experiência única e reveladora, principalmente para aqueles que nunca conheceram o autor e sentem curiosidade em suas obras. Em O Duplo conhecemos o Sr. Goliadkin. Logo nos primeiros capítulos percebemos que esse simples senhor é atormentado pelos seus demônios: Inimigos que tramam o seu fracasso, a sociedade que o oprimi, os medos que dominam a sua personalidade. E é durante uma dessas noites em que ele está tramando com seus próprios demônios que algo extraordinário acontece. Após sair devastado de uma das festas da qual não foi convidado, ele percebe estar sendo seguido por um sujeito que simplesmente é uma cópia de suas feições e após muito observar é que ele ainda mais é tomado pelo susto ao constatar que o sujeito parece morar exatamente na sua casa. O fato principal: Alguém está querendo tomar a sua personalidade. Tido como uma das ideias mais brilhantes de Dostoiévski, o autor nesse livro irá explorar a questão do duplo, onde a partir de duas personalidades iguais mas totalmente diferentes, ele expõe suas opiniões sobre a sociedade em que viveu. Chamando seu personagem de "Herói" em diversas ocasiões. o autor irá nos pintar um Goliadkin extremamente carrasco, vítima de uma sociedade que o excluiu e agora o recebe novamente com desdém, um sujeito inóspito e corrosivo, onde não possui amigos ou qualquer outra relação que não somente com seu criado. A jogada aqui é a criação de um duplo totalmente diferente de sua personalidade, em que cada página o vemos como um sujeito que esforça-se para fazer parte dessa sociedade que o exclui. Vendo que alguém igual a ele está tentando tomar seu lugar e ir contra os seus próprios conceitos, Goliadkin tenta o quanto possível mostrar quem verdadeiramente é e que esse outro senhor Goliadkin nada mais é que um impostor. Dito como um livro "verídico" pelo próprio autor, Dostoiévski criou uma temática que foi explorada por muitos autores de outras nacionalidades. O livro é um passeio psicológico sobre o momento em que um homem começa a perder sua própria identidade no mundo em que vive, tendo que ao mesmo tempo esforçar-se ou moldar-se ao mundo que lhe é imposto. Nada mais que uma crítica social altamente atual nos dias de hoje. Rodolfo Vilar
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“Olharam-se em silêncio, conscientes da total inutilidade de qualquer palavra que proferissem, presas de um sentimento confuso de humilhação e perda [...] como se a chocante conformidade de um tivesse roubado alguma coisa à identidade própria do outro”. Essa é a reação de Tertuliano Máximo Afonso, professor de história que inesperadamente se vê numa situação bastante intrigante: descobrir que existe uma duplicata de sua pessoa no mundo. Como você reagiria? Qual seria sua surpresa ao descobrir por acaso que no mundo existe um alguém igual a você nos gestos, nas feições, na fala e até nos pequenos detalhes?
Saramago nesse livro, mais uma vez nos surpreendendo com seu jogo de destinos e ideias, brinca com a possibilidade já levantada no próprio livro do Dostoievski chamado “O duplo”, quando cria um personagem que, por meios físicos e psicológicos, sente-se duplicado. Tertuliano Máximo Afonso, depois que recebe uma dica de um filme para assistir, percebe que um dos atores da película é nada menos que uma cópia fiel de sua personalidade, o que o intriga a ir mais longe ao ponto de entrar em contato com o sujeito para trocarem figuras, ou melhor, trocarem comparações sobre corpos e vida. Só que nessa decisão de ir mais longe ao ponto de entrar em contato com o sujeito que é sua cópia, Tertuliano se vê preso numa teia de conspirações e disfarces que fará com que os seus problemas sejam multiplicados até o levar a quase loucura. O livro não é apenas um enredo sobre a ideia de criar um personagem duplo, mas sim também a ideia de aprofundar o leitor na psique de uma mente confusa e cheia do cotidiano de suas obrigações, forçando a nós leitores a nos questionarmos sobre o que é verdade e o que é mentira dentro do texto. Muitas vezes nos deparamos com o Senso Comum, que aqui no livro se mostra como um dos melhores personagens já criados por Saramago, onde através de sua visão nos surpreende com ideia de confundir o certo pelo errado, o falso pelo verdadeiro, o branco pelo preto. Saramago usando de suas fábulas, nos mostra um problema da atual sociedade: A perda da identidade do sujeito. Um sujeito que vive em meio ao cotidiano que lhe prende, ou avesso (ou confuso e estagnado) as suas mais estranhas fantasias. O homem duplicado não é somente um problema de quantidades humanas, mas sim uma possibilidade de experiências para novas vidas. Tanto que essa ideia é mais abrangida no filme dirigido por Denis Villeneuve, o conceito do homem preso as teias de sua vida. O que não conta é que o filme é a casca, enquanto que o livro é a alma. No primeiro trata-se do externo e suas consequências, no segundo nos aprofundamos tanto na alma do personagem que somos capazes de nos esquecer em seu mundo. Em seu prefácio “O caos é uma ordem por decifrar”, o autor nos mostra que mesmo em meio a confusão de seus pensamentos e de suas vontades, ainda é possível para Tertuliano Máximo encontrar a si mesmo, bastante apenas decifrar aquilo que possa ser o “correto” ou o “errado” para suas escolhas, como por exemplo não enganar a si mesmo e aqueles que o cercam. O Homem duplicado é a jornada do homem ao mundo externo e também, por indecifráveis escolhas, a jornada do homem dentro de si mesmo, procurando a verdade que o poderá representar. Por Rodolfo Vilar NAVEGUE POR CATEGORIAS!Para facilitar sua procura, busque abaixo na lista o nome do autor que você procura. AUTORES
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April 2021
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