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O Duplo - Dostoiévski

8/17/2017

 
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Uma das últimas resenhas aqui para o blog foi para o livro "O Homem Duplicado" do José Saramago (Que você pode ler clicando aqui) , uma leitura profunda, confusa, cheia de detalhes e que fala intrinsecamente sobre a alma humana e seus desejos mais escondidos, onde realidade e fantasia se confundem numa busca que envolve filosofia e vida. Após analisar e procurar mais informações sobre o livro, me deparo com o link de que essa obra do Saramago foi nada menos que comparada a um grande clássico do Dostoiévski , "O Duplo", o que possivelmente tenha sido uma das grandes inspirações para Saramago, já que ele era leitor assíduo do russo.  Sabendo disso e também sendo fã do velhinho de boas histórias, resolvo ir atrás do título e me deparo com um livro bastante peculiar e interessante. 

O Duplo de Dostoiévski foi sua segunda grande obra publicada que veio ao mundo e que com ela também veio várias expectativas, já que nesse período de tempo Dostoiévski  já era considerado um grande autor pelos seus fãs, isso incluindo toda a elite da época. Nesse livro, como em todos os seus outros, o autor se revela com maestria para tratar do comportamento humano, da mente e da consciência do personagem, já que detalhadamente, como uma lupa, somos levados a interpretar as ações de suas personagens em meio ao casos em que eles convivem, sejam elas relações amorosas, de ódio, dúvida ou qualquer que seja. Dostoiévski faz desse brincadeira de entrar na mente do personagem apenas um ensaio para grandes obras que viriam posteriormente, como Crime e Castigo, Os Irmãos Karamázov (também tem post sobre ele aqui) e etc.. Em O Duplo, além de analisar o comportamento de um sujeito bastante estranho, somos conduzidos a entender também as relações que eram mantidas pela sociedade daquela época, o que nos esboça um excelente retrato da diferença social entre pobres e ricos, pessoas com e sem poder. A leitura de tal livro é uma experiência única e reveladora, principalmente para aqueles que nunca conheceram o autor e sentem curiosidade em suas obras. 

Em O Duplo conhecemos o Sr. Goliadkin. Logo nos primeiros capítulos percebemos que esse simples senhor é atormentado pelos seus demônios: Inimigos que tramam o seu fracasso, a sociedade que o oprimi, os medos que dominam a sua personalidade. E é durante uma dessas noites em que ele está tramando com seus próprios demônios que algo extraordinário acontece. Após sair devastado de uma das festas da qual não foi convidado, ele percebe estar sendo seguido por um sujeito que simplesmente é uma cópia de suas feições e após muito observar é que ele ainda mais é tomado pelo susto ao constatar que o sujeito parece morar exatamente na sua casa. O fato principal: Alguém está querendo tomar a sua personalidade. Tido como uma das ideias mais brilhantes de Dostoiévski, o autor nesse livro irá explorar a questão do duplo, onde a partir de duas personalidades iguais mas totalmente diferentes, ele expõe suas opiniões sobre a sociedade em que viveu. Chamando seu personagem de "Herói" em diversas ocasiões. o autor irá nos pintar um Goliadkin extremamente carrasco, vítima de uma sociedade que o excluiu e agora o recebe novamente com desdém, um sujeito inóspito e corrosivo, onde não possui amigos ou qualquer outra relação que não somente com seu criado. A jogada aqui é a criação de um duplo totalmente diferente de sua personalidade, em que cada página o vemos como um sujeito que esforça-se para fazer parte dessa sociedade que o exclui. Vendo que alguém igual a ele está tentando tomar seu lugar e ir contra os seus próprios conceitos, Goliadkin tenta o quanto possível mostrar quem verdadeiramente é e que esse outro senhor Goliadkin  nada mais é que um impostor. 

Dito como um livro "verídico" pelo próprio autor, Dostoiévski criou uma temática que foi explorada por muitos autores de outras nacionalidades. O livro é um passeio psicológico sobre o momento em que um homem começa a perder sua própria identidade no mundo em que vive, tendo que ao mesmo tempo esforçar-se ou moldar-se ao mundo que lhe é imposto. Nada mais que uma crítica social altamente atual nos dias de hoje.


​Rodolfo Vilar   
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Os Irmãos Karamázov - Dostoiévisk | Final (Resumo oficial). 

9/19/2016

 

Esse texto corresponde a toda a leitura realizada  do romance de Dostoiévski.
Para ler mais textos sobre "Os irmãos Karamázov" acesse: Abertura
Parte I   
Parte II 
 
  Parte III 

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Minha edição da coleção Abril de 1971.
Sem enrolação! Tenho que começar dizendo o que achei sobre o romance: Sensacional, psicológico, intenso, cultural e magnânimo. Não há palavras mais grandiosas para descrever uma das maiores obras primas de Dostoiévisk. Muitos a julgam como Magnus Opum de todas as obras já escritas até sua morte, uma vez que é nela onde Dostoiévski escreve sobre tudo aquilo que já ensaio em outros romances e contos anteriores. "Os Irmãos Karamázav" foi meu primeiro contato com o autor, e sei que muitas pessoas comentam a fabulosa estratégia criado pelo mesmo em Crime e Castigo, não sei o que dizer quanto a isso, mas sei que muitos precisam dar uma chance a uma obra de peso como essa que eu li. Obra lida, mas que anteriormente me fez ter diversos pensamentos como: Será que terei saco para ler? E seu eu começar e desistir de tão chata? Será que Dostoiévski é louco? Sim, Dostoiévski é louco, tanto que escreveu algo parecido com isso, Já quanto achar que a obra me causaria devassidão, isso foi puro engano. Uma vez começado os primeiros capítulos da primeira parte e já submerso nas descrições, críticas e ideias do autor na segunda parte, só consegui largar ao chegar no final de tudo é saber quem verdadeiramente matou papai Karamázov. 
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Algumas - poucas - marcações que achei interessante destacar.
Como dito anteriormente, preciso falar tudo que for preciso neste post. Por esse motivo aviso logo aos desavisados que o texto a seguir poderá conter (ALERTA) spoilers (ALERTA). 

Não sei como deve ter surgido a ideia do autor de criar uma história como a de "Os Irmãos karamázov", mas sei que existe diversas passagens e características que denotam semelhanças do romance com a própria vida pessoal de Dostoiévski. Primeiro que o pai do autor foi brutalmente assassinado quando ele era mais jovem, o que deve ter sido o ponto inicial para que ele tenha implantado a ideia em sua cabeça de criar um enredo sobre a morte de um pai e suas consequências. Esse fato (que não é spoiler, afinal de contas o próprio narrador nos antecipa antes mesmo de começar as primeiras linhas de seu romance) não se torna de maneira alguma piegas, já que "Os irmãos Karamázov" nada mais é que um dramalhão familiar com direito a muitas reviravoltas com respostas espetaculares. Tantas coisas acontecem dentro desse romance que muitas vezes nos sentimos isolados  nos perguntando se realmente estamos entendendo o que está acontecendo. Mas não se preocupem, tudo ao final começa a fazer sentido e um grande clack do estalo da compreensão se fará em sua cabeça. É nesse momento, se é que você já não notou isso, que estamos lendo algo divino e fabuloso. 

Dentro do romance são tantos temas, ações e revelações contadas que seria necessário anos e anos de estudo sobre o livro (Tanto que muitos dissertações e teses são sobre essa obra do Dostoiévski). No enredo cru, que trata sobre esse drama familiar, somos levados a conhecer a família Kamarázov, tão disfuncional e ao mesmo tempo familiar (desculpa a redundância do termo) que passamos de: Conhecer um pai que despreza os próprios filhos e com isso somos levados a discutir a questão do amor de sangue e sentimental, a traição entre pais e filhos relacionado ao amor a mesma mulher, a fé individual de cada um deles (afinal de contas cada personagem tem sua característica diferente) que os leva a cometer as ações ocorridas no romance, e por fim, o famoso parricídio, que é o ponto chave desse livro.

Se fossemos numerar os temas variados citados no romance, ahh, seriam muitos! Posso citar alguns: A fé individual como ponto chave da natureza humana, o psicológico como fonte de cometimento das ações humanas, a crítica a diversos regimes carcerários e a proibição da imprensa que eram praticados naquela época, além de inúmeras citações a diversos outros autores que o próprio Dostoiévski se dizia apreciador (Victor Hugo, Gogol, Tolstói, Hamlet e etc). Durante muito tempo ele foi considerado um autor-psicologo, uma vez que construía narrativas e descrições tão psicológicas para as explicações dos fatos praticados pelos seus personagens que muitos estudiosos e críticos da época o censuravam por levar suas criações a esferas tão profundas quanto a da psique humana. É pesado ler Dostoiévski e não se perguntar várias questões e dúvidas próprias.

Ao começar a leitura somos levados a conhecer tão profundamente a família Karamázov, que nos pegamos criticando as próprias ações dos personagens. Passamos a odiar o Pai karamázov, a se sentir inquieto pela impulsividade de Dimitre, seduzidos pela paixão de Ivan e comprometidos com a visão de mundo perfeito de Aliócha. "Os Irmãos Karmázov" é aquele tipo de livro que mesmo depois de terminada a leitura, sempre levaremos conosco os seus personagens por todo o sempre em nossas cabeças. Dostoiévski era mestre em fazer com que seus personagens pulassem das páginas para entrar em nossas vidas. de tão grande o seu envolvimento da construção e caracterização dos mesmos. 

E o que falar sobre o final? O que falar sobre a ingenuidade de Smiardokov? A cena do delírio de Ivan em seu quarto na companhia de certo personagem? Do poema do "Grande inquisidor"? E de muitas e muitas coisas que o livro trás e que é impossível não anotar para uma segunda leitura.

Ler "Os irmãos Karamázov" foi uma experiência única que me ressuscitou a mesma sensação de ler "Os miseráveis" de Victor Hugo. Senti-me no colo do autor a ouvir de sua própria boca toda a narração. Sensacional. Convido todos a passarem pela mesma experiência, essa tão transformadora que transforma o leitor em um novo individuo. Para fechar tenho que dizer que Dostoiévski tornou-se um dos meus autores favoritos, mas ainda tenho um xodó maior pelo meu querido Tolstói. Ambos, dois autores que sempre farão parte de minhas indicações. 
Por Rodolfo Vilar
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Os Irmãos Karamázov - Dostoiévski | Parte III

9/15/2016

 
Esse texto corresponde aos livros VII, VIII e IX da terceira parte do romance de Dostoiévski.
Leia mais em: Abertura
Parte I  
Parte II
 
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Já passamos da metade do romance, o que significa dizer que aquilo-que-é-spoiler-e-não-pode-ser-dito já aconteceu. Esse penúltimo post sobre "Os Irmãos Karamázov" será provavelmente o último no qual abordarei assuntos e pontos de vista do qual não revelo de maneira alguma spoilers circunstanciais que comprometam a leitura daqueles que apenas procuram por informação. Então deixo avisado de antemão, esse será o último post que você poderá ler sossegado, uma vez que, quando voltar para fechar o especial, já estarei eufórico para comentar os fatos que revelaram o fim desse grande romance. 

Já se passou dois posts sobre o enredo do Dostoiévski e juro (é sério, juro mesmo!) que tentei não falar sobre algo que me incomodou bastante. Posso estar louco ou devotado do espírito de discriminalidade machista, mas houve momentos dentro do livro no qual me incomodaram bastante à respeito do papel das mulheres que levam alguns fatos a se desenrolarem. Tudo bem que existe passagens altas em que o autor exalta o papel que a mulher estará a conquistar na sociedade nos próximos anos em que o livro foi escrito, mas vocês se sentiram incomodados ao descobrirem que boa parte das explicações dadas as ações realizadas pelos irmãos, e pelo próprio pai karamázov, se dá ao fato de haverem mulheres metidas no meio? Veja por exemplo a explicação que envolve a briga entre Dímitre e seu pai? Veja por exemplo as reações que Grutchenka provoca em seus amantes? Tudo bem que essa personagem não tem lá seus pudores e direitos como personagem de boas ações. Tudo bem que as brigas entre pai e filhos também envolve herança e o fato da falta de consideração que o pai teve com seus filhos durante a criação dos mesmos. Mas eu senti um desmerecimento enorme à respeito das mulheres nesse romance, porque elas não passam disso, de protagonistas de romances. Não encontrei até agora uma mulher personagem forte, com princípios, justificativas para ações dentro da trama que explique fatores ou dê aos leitores empatia. Fica injusto tratar de feminismo ou apontar fatores fortes para as personagens de Dostoiévski nesse romance. Quero saber de vocês se também se sentiram um pouco incomodados. (Aceito comentários no espaço abaixo deste post). 

Mas voltemos ao que aconteceu nessa terceira parte.

Nessa parte do livro somos preparados - ou não - para o grande fato, auge, apogeu, acontecimento homérico, desse livro. É nessa parte que precisamos estar atentos quanto algumas informações importantes, ou não, que o narrador irá nos passar. E eita que narrador danado ein. Ficamos confusos com tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. São reflexões sobre fé e personalidade, são acontecimentos referentes aos amores proibidos, e são as vinganças premeditadas. Digo logo, nada será como você imagina. No Livro VII temos como foco Aliócha, desde sua perda comentada no post anterior, como também o seu momento de mudança. É nesse momento que percebemos uma mudança (não descrita, mas percebida) em sua natureza, onde o "despertar" para o mundo que fará parte talvez seja a explicação para muita coisa que aconteça. Já no Livro VIII, com foque em Mítia, não conseguimos de maneira alguma largar a leitura de tão intensa, visceral e psicológica. Nesse auge acompanhamos Dimitre em prol de se vingar de Grutchenka - seu grande amor - por o ter abandonado e fugir com um oficial antigo noivo seu. Somos impelidos por raiva, desprezo, demônios e crueldade. Somos fisgados pela narrativa contagiante e thriller de Dostoiévski em nos contar como sua mente é brilhante e astuciosa em prender o leitor. Só lendo para entender. E para finalizar, no Livro XI, de uma maneira bem investigativa e desdenhosa do ponto de vista de Mítia, conhecemos o desenrolar e o inicio do maior suspense entre os irmãos Karamázov que faz desse livro o melhor de todos.

Se você que me acompanha chegou até aqui para compartilhar de suas impressões de leitura, eu tenho um aviso: No nosso próximo encontro prometo não ter papas na língua e comentar tudo que já passamos nesse romance profundo, mental e vivo que Dostoiévski conseguiu criar. Não é a toa que Freud leu esse troço e o usou em seus estudos. É de arrepiar. Então até a próxima. 
Por Rodolfo Vilar
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Os Irmãos Karamázov - Dostoiévski | Parte II

9/11/2016

 
Esse texto corresponde aos livros IV, V e VI da segunda parte do romance de Dostoiévski.
Leia mais em: Abertura
Parte I 
 
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Dostoiévski no prólogo de seu romance: "Ao começar a biografia de meu herói, Alieksiéi Fiódorovitch, sinto-me um tanto perplexo. Com efeito, se bem que o chame meu herói, sei que ele não é um grande homem; prevejo também perguntas deste gênero: "Em que é notável Alieksiéi Fiódorovitch, para que tenha sido escolhido como seu herói? Que fez ele? Quem o conhece e por quê? Tenho eu, leitor, alguma razão para consagrar meu tempo a estudar-lhe a vida?"

Seria de fato Alieksiéi o herói da obra de Dostoiéviski? Até agora não sei dizer com certeza nada sobre isso, mas que Aliócha constituí o personagem principal de "Os irmãos Karamázov" isso posso admitir. Confirmo isso do ponto de vista pelo qual o autor nos conduz dentro do enredo, na forma como esse personagem é tido como um pêndulo que oscila entre todos os outros personagens que circulam dentro da história. O fato é que essa segunda parte do romance é bem retida em focar os aspectos psicológicos de nosso personagem, assim como do mosteiro e de seu mestre, dois pontos importantes de esclarecimento para se entender as atitudes de Aliócha. 

Já tinha comentando isso e, depois de ouvir de outras pessoas a mesma opinião, ficou claro que os grandes autores russos adoram fazer críticas ou levantar questionamentos sobre religião e fé. Dostoiéviski dentro desse livro faz os dois, tanto criticando a questão da fé como um ponto de salvação para a humanidade, ou mesmo a exploração do espirito de bondade que deve ser praticado para a recompensa final do paraíso; como também questionar sobre a própria fé em si, como muitas das cenas em que vemos o próprio Aliócha discutir com seu irmão, e crédulo, Ivan. Após o livro IV intitulado "Mortificações", onde Aliócha presencia a questão do praticar da bondade e é rejeitado de uma certa maneira, temos o livro V chamado "Pró e contra" no qual contém o capítulo mais famoso e criticado da história (O grande inquisidor) em que temos a passagem levantada por Ivã no qual ele proclama que rejeita o mundo que Deus criou porque foi erguido sobre uma base de sofrimento. Esse capítulo, "O grande inquisidor", nada mais é que uma capítulo onde Ivan narra para Aliócha seu poema imaginado que descreve um líder da Inquisição Espanhola e seu encontro com Jesus, que retornou à Terra. Aqui, Jesus é rejeitado pelo Inquisidor que o lança na prisão e depois diz:
Por que achaste de aparecer agora para nos atrapalhar? Pois vieste nos atrapalhar e tu mesmo o sabes. [...] Faz muito tempo que já não estamos contigo, mas com ele [Satã] [...] Recebemos dele aquilo que rejeitaste com indignação, aquele último dom que ele te ofereceu ao te mostrar todos os reinos da Terra: recebemos dele Roma e a espada de César, e proclamamos apenas a nós mesmos como os reis a Terra, os únicos reis [...] mas nós o conseguiremos e seremos os Césares, e então pensaremos na felicidade universal dos homens
O Grande Inquisidor diz que Jesus não deveria ter dado aos humanos a "carga" do livre arbítrio. Ao final dessas discussões, Jesus silenciosamente dá um passo à frente e beija o velho homem nos lábios. O Grande Inquisidor, atônito e comovido, ordena que Ele nunca mais volte ali, e o solta. Aliócha, após ouvir a história, vai até Ivan e o beija suavemente, com uma emoção inexplicável, nos lábios. Ivan grita de alegria, porque o gesto de Aliócha foi tirado diretamente de seu poema. Os irmãos então se despedem.¹

É possível perceber que Aliócha pode não ser o herói de nossa história, mas sim ser tratado como o personagem com mais princípios, mais culpabilidade pelos seus atos e que se importa com a ação praticada pelos outros que o rodeiam. Por isso que considero Aliócha o espirito pensador do enredo, no qual sua consciência trabalha por todos, sendo nesse caso, o guia de seus próprios irmãos. 

Já no último livro, o VI (Um monge russo), nos adentramos em conhecer a historia e a morte do mestre de Aliócha, o Stariéts Zossima, em toda sua complexidade e construção de vida. É nesse capítulo que conhecemos o homem considerado por alguns como santidade pelas suas práticas. Porém quando adentramos em sua história, descobrimos que sua humanidade é bem mais forte e interessante do que sua fase atual onde muitos o consideram como um homem de virtudes indiscutíveis. No final desse capítulo é que Dostoiévski reforça essa questão do "ser humano", quando o "fato final" descrito mostra que por trás de todos nós, dentro de nossa intimidade, é que passamos a ser iguais a todos: em momentos sublimes e em outros verdadeiramente podres.  
1. Retirado da Wikipédia
Por Rodolfo Vilar
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Os Irmãos Karamázov - Dostoiévski | PARTE I

9/6/2016

 
Esse texto corresponde aos livros I,II e III da primeira parte do romance de Dostoiévski.
Leia mais em: Abertura

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Karamázov ou Karamázovi (no plural): Nome forjado, composto provavelmente do substantivo Kara, castigo, punição; e do verbo mázat, sujar, pintar, não acertar. Seria simbolicamente aquele que com o seu comportamento desacertado provoca a própria punição. 

Rakítin numa conversa com Aliócha: "Eis sua definição e o fundo de sua natureza. Foi seu pai quem lhe transmitiu sua abjeta sensualidade [...] És, no entanto, um Karamázov! Na família de vocês, a sensualidade chega até o frenesi.

O que significa ser um Karamázov, afinal de contas? Segundo o trecho do próprio livro, é ser sensual no sentido de ser determinado e dono de suas próprias ações. É ser vivo, fugaz, valente, enamorador, galante, ter o sangue azul correndo nas veias. É não ter papas na língua e dizer o que bem entender, porque ser Karamázov é de certa forma ser respeitado. Porém eu digo mais. Digo que ser Karamázov é não saber ao certo o seu destino, mesmo em meio a tantas ações praticadas - intencionais ou não. O Karamázov está para a razão humana assim como cometer loucuras e não dar-se conta disso, porque exatamente o que Dostoiévski quis criar foi uma família totalmente disfuncional em meio a uma grande tempestade de consequências sentimentais e desacerbadas. 

Publicada inicialmente em 1879, Os Irmãos Karamázov é uma obra Russa do grande autor Fiódor Dostoiévski. O livro se tornou tão importante na literatura que até mesmo o grande psicanalista Sigmund Freud a considerada uma das três grandes obras mundiais que todos precisam conhecer um dia na vida (entre as outras estão Hamlet e Édipo Rei). A narrativa principal, contada através do ponto de vista de um narrador que não é tão confiável, vai tratar da história de uma conturbada família em uma cidade na Rússia. O patriarca da família é Fiódor Pavlovitch Karamázov, um palhaço devasso que subiu na vida principalmente devido aos dotes de suas duas mulheres, ambas mortas de forma precoce, e à sua mesquinharia. Com a primeira mulher tem um filho, Dmitri Fiodorovitch Karamázov, que é criado primeiramente pelo criado que mora na isbá ao lado de sua casa e depois por Miússov, parente de sua falecida mãe. Com a segunda mulher tem mais 2 filhos: Ivan e Aliêksei Fiodorovitch Karamázov, que são criados também por um parente da segunda mulher do pai de ambos. Ao passo que Ivan se torna um intelectual, atormentado justamente por sua inteligência, Aliêksei se torna uma pessoa mística e pura, entrando para um mosteiro na cidade.

Dostoiévski é um mestre na forma como constrói seus enredos, fazendo com que o leitor fique fisgado desde as primeiras linhas em conhecer seus personagens de uma maneira bastante minuciosa, o que nos provoca a conhecer cada um detalhadamente a ponto de desconfiar de seus atos praticados. Desde o início do enrendo que o autor nos faz conhecer a fundo a natureza dos Karamázov, principalmente do patriarca da família, um sujeito patético, detestável e que abandonou os filhos desde muito pequenos para poder usufruir de suas aventuras amorosas e vadias. Dostoiévisk nos faz odiar a esse homem, mas será isso um fato verossímil ou ele simplesmente nos manipula a ter uma desculpa futuramente para o que poderá acontecer? Não sei. Tudo é confuso e só temos que nos aprofundar na história conhecendo cada filho desse sujeito que aprendeu sozinho, ou com quem os criou, a verdadeira dor da vida real. É no primeiro livro da obra que o autor nos inicia a conhecer as características de cada um deles.  

Entre os filhos karamázov é possível distinguir três pontos distintos que fazem deles sujeitos diferenciados e ao mesmo tempo iguais. No mais velho, Dmítri, é possível enxergar sua ignorância e seu espírito de vingança motivado pelas desgraças do pai; no do meio, Ivã, sua inteligência é ao mesmo tempo sua dádiva e sua maldição, onde inúmeras vezes o enxergamos como que dominado pelos seus pensamentos e suas filosofias de vida. Somente Aliócha, o mais jovem dos três, é que parece ser o ponto de equilíbrio de toda essa família, onde a fé e sua devoção a religião o transformam em um sujeito consciente de seus atos, assim como também os dos que o rodeiam. Se pudêssemos de fato distinguir nossos personagens nesse ponto do romance, diria que Dimítre é o ponto auge da vingança que se estabelece dos conflitos entre eles e seu pai, seguido de Ivã que parece ser um sujeito maleável e que facilmente muda de ideias, enquanto que Aliócha parece ser bom, mas também teria motivos para entrar na mesma ideia de seus irmãos mais velhos. 

Mas por que Dostoiévski nos aponta o velho karamázov como um vilão? Ai fica a dúvida. 

É entre as longas conversas e os encontros bem peculiares entre irmãos e pai que vamos conhecendo minuciosamente os motivos que existem para que esse família não permaneça unida e constantemente esteja metida em confusão. O costurar do destino de cada personagem construído por Dostoiévski é manso e bem construído, o que realmente nos faz conhecer a fundo as motivações e os pensamentos de cada um. Profundamente psicológico, porque o autor nos faz cogitar a índole, os medos e as reviravoltas de cada um. Esse tipo de enredo é perigoso exatamente por nos provocar reações adversas sobre o destino daquilo que lemos. Então a única maneira de continuar a leitura é não confiar nesse narrador tão falso e modesto e esperar o que as próximas linhas podem trazer de tão misterioso. 

O livro I intitulado "História de uma família" é focada exatamente em nos apresentar essa família, porém Dostoiévski constrói inúmeros capítulos à parte, como era o costume dos romances daquela época, para tratar de assuntos críticos ou de pequenas opiniões do próprio autor. No livro II, "Uma reunião inoportuna", encontramos a família Karamázov numa situação bastante complicada, onde exatamente nesse ponto conhecemos que os problemas são realmente sérios entre ambos, além de nos acentuar o rancor pelo patriarca Fiódor. Já no livro III, "Os Lascivos", o autor nos dá uma pequena explicação dos motivos existentes entre os irmãos e seu pai, o que não poderia deixar de  incluí o envolvimento de conflitos advindos de paixões impossíveis. Além disso, Dostoiévski irá nos apresentar a religião bastante peculiar dos startzi do qual Aliócha faz parte. São capítulos e capítulos á parte para tratar sobre esse assunto, já que entre os três irmãos, Aliócha é o que mais se apega ao lado religioso da coisa, nos apresentando grandes discussões sobre esse tema. 

Ainda muita coisa irá acontecer daqui pra frente. Toda a complexidade da escrita do Dostoiévski ainda não está no seu auge e chegaremos a esse ponto auge do romance. Não é à toa que muitos consideram os Irmãos Karamázov como a obra magma do autor, onde ele conseguiu usar toda sua maestria na arte de escrever. Então vamos continuar adentrando nesse mistério delicioso. 
Por Rodolfo Vilar
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