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Na minha humilde opinião, o terceiro volume de Harry Potter sempre foi o meu preferido por diversos motivos. Não que ele tenha algo extremamente diferente que o desfoque dos demais livros, muito pelo contrário, mas sim existe diversas especificidades que o tornam um livro especial, já que, como logo veremos a seguir, J.K. Rowling não cria exatamente nesse volume um vilão personificado. Além disso é nesse volume que vemos um Harry Potter mais... “livre” (?) por assim dizer. Mais aulas acontecem, mais diversão é obtida, mais humor é empregado nos personagens, o que fazem da obra, com o bônus da adaptação do cinema ter aquele ambiente sombrio e hilário ao mesmo tempo, o terceiro volume que ficou sendo o meu xodó toda vez que sempre os releio. Então falar sobre Harry Potter é destacar que até esse momento - e espero que isso não mude – O Prisioneiro de Azkaban continua sendo o meu favorito dos sete volumes. Lançado inicialmente em 1999, o terceiro volume da série Harry Potter foi, segundo J.K. Rowling, o mais fácil de ser escrito, levando apenas um ano para ser concluído. Nesse momento a autora se sentia plenamente confortável financeiramente e já começava a sofrer os males de sua fama ao ser perseguida por paparazzis a fim de descobrirem revelações sobre suas histórias. Nesse volume, considerado por muitos o ponto inicial do amadurecimento da escrita de Rowling, vemos outros motivos que desencadeiam o enredo da história que não a preocupação de Harry pelo perigo em Lorde Voldmort. Conhecendo as histórias que circulam pelo mundo bruxo, Harry descobre que sua segurança corre perigo por estar sendo perseguido pelo famoso Sirius Black, onde o terceiro ano do garoto na escola de Hogworts será descobrir um pouco mais sobre esse sujeito e como ele está ligado a sua família. Segundo os críticos “é possível notar uma mudança na escrita de Rowling, já que seus personagens estão mais desenvolvidos e interessantes”, o que faz com que eu concorde plenamente. A forma infantil com que Rowling conduz e nos apresenta a história começar a ser esquecida nesse momento, já que, percebendo a futura concepção que seus leitores crescerão com seus livros, ela passa então a escrever com uma escrita que vai amadurecendo conforme a publicação de seus próximos volumes. A adaptação para os cinemas foi lançada em 2004 pelo diretor Alfonso Cuarón e rendeu um total de 796 milhões de dólares de bilheteria. Nas primeiras edições de Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban ocorreu um erro de edição, fazendo com que o texto pulasse algumas linhas, dificultando assim a leitura do livro. Esses exemplares hoje valem milhares de euros. As diferentes formas do mal Não trazendo a forma verdadeira – ainda – de Voldemort ao enredo, J.K. Rowling nos apresenta uma história que não foca necessariamente num vilão personificado. O diferencial da história desse terceiro volume é que Harry não exatamente irá lutar contra um vilão, mas sim passará por uma luta mais especifica onde precisará se deparar com alguns mistérios que envolvem a sua família e amigos. Para Harry é estranho descobrir que um parente próximo (seu padrinho Sirius) por algum motivo o está perseguindo para o matar. Somente com o passar das páginas e com o descobrimento da verdade é que sabemos a realidade dos fatos e mais ainda sofremos com o bruxinho ao se deparar que por um breve momento ele possa ter uma família e mesmo assim impossível de se envolver com seu padrinho. Dentro desse volume existe vários momentos em que Rowling irá de certa forma personificar os tipos de maldade que existe no mundo de Harry Potter e que essa fantasia está sim mesclada um pouco com a própria realidade da autora. No início do livro conhecemos a Tia Guida, que por se tratar de uma mulher cruel e insensível, pode se personificar no mundo verdadeiro onde existem pessoas que maltratam menores de idade e usam da força e dos maus tratos para educar. Não é à toa que Rowling usa de uma voz autoritária na personagem para exemplificar a maldade que ela tem e emprega nos demais. E também não é à toa que seu castigo é merecido. Os próprios medos de Harry são personificados nesse volume na presença de um cão (sinistro). A todos os momentos, quando sente-se inseguro, sozinho no mundo, abandonado pela família e até mesmo na escola quando seus colegas o recriminam, é a presença do sinistro em seus sonhos e em sua preocupação em que ele apareça que demonstra o subconsciente de Harry na forma de tratar o medo. Somente depois é que ele percebe que encarando seus medos – descobrindo que na verdade ele é seu padrinho – é possível os tratar como realmente os são. Por fim, e o já conhecido tratamento que J.K. Rowling dá aos Dementadores, sabemos que na verdade essa figura monstruosa é somente uma forma figurativa como a autora tratou de personificar a sua depressão, a grave doença que teve que encarar nos primeiros anos após a morte de sua mãe. Como a própria autora narra na descrição dos dementadores: “e quando eles chegaram (os dementadores), foi como se tudo ficasse frio e mórbido, fazendo os garotos afundarem-se na própria poltrona, no próprio coração...”. Isso não seria a própria descrição do sentimento de alguém com os sintomas da depressão? Claro e isso está provado na forma como as monstruosidades circulam pela história e provocam as mais diversas reações naqueles que são afetados.
Os medos pelos dementadores, pelo sinistro, pela aparição da lua cheia, pela perda do rato e tantos outros tipos de medo, são provas claras que esse volume não trata-se especificamente de encontrar um vilão, mas sim que a grande luta dos personagens é tentar fugir e encarar aquilo que nos faz mais fortes, ou seja, encarar o nosso próprio interior e crescer com isso. O Patrono, a forma como espantar o dementador, é uma forma simbólica de esperança, a luz no fim do túnel, a centelha de que algo possa ser possível de ser mudado e aprendido. E é exatamente por isso que esse volume se torna o meu mais favorito entre todos os outros. Por Rodolfo Vilar
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Uma vez dentro do universo Harry Potter, sempre dentro desse universo. Talvez não seja à toa que J.K. Rowling decidiu dividir sua obra em sete livros; não apenas pela grandiosidade do seu universo, como também pela forma gradativa como ele aos poucos vai se expandindo em nossas vidas e na descoberta de novas coisas a serem exploradas. Tudo planejado nos mínimos detalhes. Em Harry Potter e a Câmara secreta, somos levados mais uma vez a novas aventuras, novos dramas e a um enredo que vai se tornando cada vez mais adulto e sombrio. O Lorde das Trevas começa a ganhar forças. Para aqueles que pararam nesse post ao acaso, você pode acompanhar esse diário de leitura – um pouco as avessas – clicando na nossa primeira viagem para além do básico de Harry Potter e a Pedra Filosofal e nossa análise mais profunda de temas recorrentes em seu enredo. Lembrando que The Chambers of secrets foi publicado em 1998, quando Rowling já estava bem famosa no reino unido devido ao seu primeiro volume. Certas autoridades religiosas já condenavam o livro por citar temas sobre feitiçaria e magia, uma coisa que poderia ser tida como perigosa para crianças cristãs em questão. De modo geral, a crítica elogiou o trabalho de Rowling, o considerando com uma temática que dava “ênfase no auto sacrifício e na maneira que o caráter de uma pessoa resulta em suas escolhas”. Ainda foram levantados comentários a cerca da criação de personagens com personalidades para formação dos seus leitores; o discurso sobre o racismo e a questão de etnias e famílias nobres; o cuidado com a comunicação com estranhos e o debate sobre a autoridade como forma não fiável de criação de competência. O filme veio aos cinemas em 2002 e já era considerado um sucesso de bilheterias, chegando a ser a sétima maior da história. Lar doce lar É a moradia mais legal que eu já conheci! diz Harry Potter assim que descobre os encantos de estar n'A Toca, a casa dos Wesley, que mais parece que vai cair do que realmente sustentar uma família tão grande como essa. Harry, que saiu da casa dos tios de maneira abrupta, um lar no qual não se sente de maneira alguma acolhido e muito menos sente-se confortável para chamá-lo de lar; Harry que nunca imaginou como seria ter sua própria casa, viver com sua família, receber os cuidados de seus parentes e muito menos ser educado, sente-se ao chegar no seio da família Wesley, um deslumbramento evidente pelo novo, pelo contato, pelos laços, fazendo dessa simples visita um momento único e que talvez tenha tornado tal família a única família para Harry, já que nos próximos livros fica evidente que será os Wesley que o acolherão em todos os momentos mais importantes. Rowling deixa evidente aos seus leitores esse sentimento de acolhimento familiar, o quanto o papel da família é importante na formação do indivíduo. Outro fato curioso é a formação da família Wesley, sendo quase um clã imenso de tão grande e que por isso mesmo torna-se um dos motivos do papel da família disfuncional, evidenciando os diferentes laços e formações que a compõem. Além disso, a família Wesley é traçada como pobre, que vive afastada de outras regiões com mais povoamento de famílias mágicas e que a torna mais peculiar ao ponto de destoar de outros núcleos mais burgueses, como por exemplo os Malfoy, que deixam a marca permanente da arrogância, dos maus tratos aos outros e da permanência do chamado “sangue puro”. Rowling não apenas nos mostra um menino carente de afeto familiar, mas também como esse afeto familiar molda o indivíduo para sua personalidade e para a sociedade. Um belo exemplo disso é o encontro entre as famílias Wesley, Malfoy e Granger na Floreos & Borrões, onde fica evidente a diferença de características entre esses três núcleos, destacando o papel da educação familiar que vem de casa e é representada ao público. Apesar do livro ter sido escrito em 1998 e tratar de assuntos tão importantes no ano atual (2017: formação familiar, LGBTS, adoção etc.), é bem provável que as experiências de Rowling no seio materno, na exclusão social que sofreu após a separação e a necessidade de assistência familiar governamental tenham influenciado em assuntos tão peculiares para a autora. A tecnologia trouxa inserida ao mundo mágico Bules que servem chá sozinho. Carros que voam e são expansíveis. Botas que se transformam em portais. Lareiras que servem de transporte. A todo o momento nos vemos com a tecnologia ou os aparatos trouxas sendo inseridos em meio ao mundo mágico. Isso fica bem visível nesse segundo livro da série, já que Arthur Wesley nada mais é que um funcionário do uso indevido dos artefatos trouxas. J.K. Rowling não cria uma história sobre magia e bruxaria com uma narrativa medieval ou obsoleta, pelo contrário, todo o enredo de Harry Potter se passa num mundo atual, vivo, Londres, século XX em evolução, o que cria a perspectiva de um mundo bruxo escondido mais verdadeiro e dinâmico. Apesar de estarmos inseridos num mundo real, Rowling com essa ideia nos dá asas a imaginação, o que possibilita poder imaginar que estamos inseridos em um mundo dentro de um mundo, da mesma forma como autores clássicos ingleses (Tolkien, CS Lewis) optaram por descrever em suas histórias. Rowling, mesmo vivendo num mundo atual, traz essa ideia para seus romances, a possibilidade de inovar e expandir a imaginação dos leitores. Celebridade, racismo, opiniões. Ninguém mais quer ser professor contra as artes das Trevas, o que faz da cadeira de tal disciplina meio que tornar-se assombrada, e ainda, ser cobiçada pelo Professor Snape. Gilderoy Lockhart, celebridade em foco do mundo da magia, é o único candidato que aparece com interesse para tal vaga, o que faz da vida de Harry um estorvo, já que o incita a viver sobre o fantasma de sua própria celebridade. Para Harry, que ainda não entende como sair vivo das mãos daquele-que-não-deve-ser-nomeado possa se tornar um fato crível de celebritismo, o fato de tornar-se uma espécie de celebridade o atormenta, já que para sua mente esse título não tem uma noção que o encoraje em seguir em diante. O que Rowling queria passar com isso? Medir a fama ao ponto em que ela não altere a característica daquele que a obtém? Saber que esse bônus também vem com um ônus? Pensemos sobre. Outro tema bastante tocado pela autora, e que fica evidente em todo o livro, é a questão do racismo de forma camuflada no enredo. Bruxos que nasceram em famílias de trouxas (não bruxas) são consideradas como “sangue Ruim”, como se o relacionamento entre bruxos e trouxas, e em decorrência disso o nascimento de uma raça mestiça, fosse uma mácula para o mundo mágico. De maneira bastante sutil em seus personagens, Rowling vai inserido falas e comportamentos que configuram o que no nosso mundo se enquadra como o racismo, uma atitude tola e discriminatória que apenas mostra a desinteligência de um povo que evidentemente já é misto desde os primórdios do tempo. Phobias
No segundo ano de Harry em Hogwarts as coisas parecem ficar mais propensas a instigaram seu lado detetive a procura de problemas, não apenas pelo rumor de que a famosa câmara secreta foi aberta, mas sim também porque estamos tratando de um personagem totalmente com mente aguda para arranjar problemas mesmo apenas respirando. O clima na escola parece ficar propenso a uma espécie de terrorismo iminente, onde a pergunta é “quem será o próximo a ser vítima do monstro que assusta a todos?”. Esse mesmo clima pode ter sido inspirado em noticiários frequentes sobre os famosos atentados em escolas por terroristas ou psicopatas que vira e mexe estão sendo notícia nos periódicos matutinos. Nesse ciclo de assuntos tratados em Harry Potter e a Câmara secreta, a phobia ou o medo iminente, estão incluídos de uma maneira bastante vivida, já que o grande assunto é exatamente saber quem será o próximo a morrer. Outros temas que envolvem o medo também fazem parte desse material, como por exemplo o próprio Rony que teme as aranhas monstruosas que poluem a sua mente, Gina Wesley que tem a mente dominada pelo espectro de um fantasma que o atormenta e muitos outros pequenos núcleos e casos específicos onde o medo se torna algo cíclico e representativo. Mitos Por fim, o ponto central desse segundo volume da história é voltado para o aparecimento de Mitos e Lendas que circulam Hogwarts desde um tempo muito passado. A própria história da Câmara secreta é um mito que assola as mentes de velhos estudantes e que evidente entra na mente dos jovens. O mito do monstro que habita a Câmara Secreta poderia ser representado como o mito do bicho papão, do monstro do lago, o pé grande ou muitas outras histórias que surgem como lendas. A descoberta em saber quem é o verdadeiro herdeiro de Salazar Sonserina é o ápice da descoberta do livro, um fator que voltará como repostas futuras para muitas outras perguntas, já que evidentemente esse livro está bastante conectado ao sexto Volume (Harry Potter e o enigma do Príncipe). Nesse livro a questão do Mito é tratado como um assunto a ser desbravado, onde muitas vezes esse próprio mito pode se tornar uma ameaça ao controle de nossa sanidade, de nossos destinos. Harry Potter não acaba por aqui. Ainda faltam cinco livros e muitos dos bons ainda estão para chegar. Na minha opinião o enredo, assim também como nos filmes, começa a ganhar um tom mais adulto exatamente nesse próximo volume (Harry Potter e o prisioneiro de Azkaban), já que muitos dos assuntos se tornam mais sombrios ou perdem esse tom infantil com que são tratados nos livros anteriores. Então arregacem suas mangas, e varinhas, e voltemos mais tarde para falarmos um pouquinho mais sobre esse paixão tão gostosa que é Harry Potter. Por Rodolfo Vilar Era um ano desses do início dos 2000, um cinema retirante estava chegando na cidade, o alvoroço entre a molecada estava alto por dois motivos: Conhecer o troço que nos apresentaria um filme e reunir toda a galera num grande evento que movimentaria a cidade. O título do filme era um tanto estranho, um nome em inglês seguido de um subtítulo que também não dizia lá muita coisa. Além de alguns filmes nacionais bem bacanas naquela época, o mistério era descobrir que filme seria aquele em que aparecia um menino de óculos na capa seguido de vários outros personagens bem estranhos. No dia marcado as luzes apagaram-se, a praça encheu-se com o cheiro da pipoca e todos fizeram silêncio porque dali em diante seriam mais de duas horas de esbugalhar de olhos, emoção e magia. Harry Potter e a Pedra Filosofal entrava na minha vida assim como na de muitas outras crianças que dali em diante usariam daquele filme como uma ponta para a magia dos livros, do mundo criado por uma autora talentosíssima e muitas outras fontes de imaginação e do significado do que seja amor. Claro que os anos foram se passando, livros foram sendo lançados, houve leituras realizadas através de empréstimos de amigos solidários e somente bem velho, já quando eu era um adolescente, foi que consegui montar minha própria coleção com toda a história do menino órfão submerso num mundo mágico. Talvez um marco para o sentimento de liberdade financeira e adulta. Risos. Ler apenas uma vez não era um requisito, assistir apenas uma vez também não era requisito. O filme deveria ser assistido várias e várias vezes, deveria ser decorado as falas, lembrado os detalhes de cenário, os feitiços lançados e até, isso não é brincadeira, saber fabricar uma varinha que imitasse os trejeitos da varinha do personagem principal – Quase um aprendiz de Olivaras. Ao fim, a grande magia por trás de todo esse mundo era o fascínio que Harry Potter criava nos leitores. O fascínio pelas releituras, pela descoberta de novos detalhes e em assistir e indicar o tema a novos amigos que magicamente se multiplicavam pelo gosto em comum. Em suma, Harry Potter não foi um fenômeno, mas sim um acontecimento mundial. Agora, quase dez anos depois, é que decido reler toda essa magia mais uma vez, tentando usar dos meus olhos – hoje de velho – para descobrir o que deixei passar, descobrir os pontos de união que liga todos os livros em apenas um e tratar de certos assuntos com mais afinco, detalhes que mostram que o enredo é mais que enredo, é um poço de entendimento sobre o humano. Sendo assim, peguem suas varinhas que nossa viagem por Hogwarts começa mais uma vez. O Início de tudo “O Sr. e a Sra. Dursley, da rua dos Alfeneiros, nº4, se orgulhavam de dizer que eram perfeitamente normais, muito bem e obrigado. Eram as últimas pessoas no mundo que se esperaria que se metessem em alguma coisa estranha ou misteriosa, porque simplesmente não compactuavam com esse tipo de bobagem.” (Harry Potter e a Pedra Filosofal, p. 7). Assim somos introduzidos na história, logo entendendo de cara que iremos nos envolver com um bando de gente estranho, mas como somos (e seremos) mais que estranhos também, que não nos importemos com esse fato, que vistamos nossa capinha da estranheza e embarquemos nessa história sem paradeiro para um lugar mais que estranho também. Às vezes me pergunto como J.K. Rowling conseguiu criar as primeiras linhas desse livro, onde ela estaria e quais seus primeiros pensamentos ao ler na sua própria voz as linhas mágicas que nasciam de sua imaginação. Tudo bem que existe toda aquela história sobre ela andar de trem de um lado para o outro e do nada “Click”, uma bela história que desaponta na sua cabeça. O que me cutuca lá no fundo é saber como ela, logo nos primórdios de um livro que não tinha chance alguma de fazer sucesso, conseguiu criar uma linha de direção que fica tão clara. Quando falo linha de direção, quero dizer no sentido em que a história tomou, nos detalhes microscópicos que apenas numa releitura conseguem florir, fazendo com que a grandiosidade de detalhes maiores nos próximos livros comecem com um semente tão pequena como nesse primeiro. O grande aspecto da história é que J.K. Rowling estava criando um livro que usaria como arco de construção o tema amor em diversos aspectos: O amor de uma mãe que salvou seu filho, o amor dos pais que, mesmo depois de mortos, ainda está semeado no coração de seu filho sob diversas formas, o amor pelas amizades, o amor pela coragem em enfrentar as coisas más da vida e etc, etc, etc. O ponto máximo da história de J.K. Rowling é quando ela mesma, em meio a uma crise de vida, reflete todas as suas experiências num livro que seria o maior sucesso de sua vida. Em resumo: Harry Potter nada mais é que a realização e a busca por um sonho, qualquer que seja, impregnado pela força de ir longe para realiza-lo. “Ele vai ser famoso, uma lenda. Eu não me surpreenderia se o dia de hoje ficasse conhecido no futuro como o dia de Harry Potter. Vão escrever livros sobre Harry. Todas as crianças no nosso mundo vão conhecer o nome dele!” (Harry Potter e a Pedra Filosofal, p. 15.). O que seria esse trecho? Uma frase apocalíptica para o grande sucesso que a série viria ter? O que seria esse “dia de hoje” como o dia de Harry Potter? Seria o 1º de setembro quando milhares de crianças no mundo vibram em saber que nesse mesmo dia o início de um mundo mágico estava prestes a acontecer? A amizade entre Harry, Rony e Hermione Quando se lê Harry Potter e a Pedra Filosofal, principalmente numa releitura em que os elementos que compõem a amizade entre Harry, Rony e Hermione, são vistos de uma forma mais intrínseca no sentido do impossível, fica claro entender que essa amizade é cheia de altos e baixos, principalmente por se tratar de três personagens tão diferentes um do outro. O próprio site Pottermore levanta uma teoria a respeito da criação da amizade entre ambos, já que quase ela não é criada: Os laços de amizade entre Harry e Rony são bem mais simples, uma vez que Harry, ao adentrar num ambiente inóspito, sem pais, excluído do meio em que se encontra, cria uma certa ligação com Rony, um dos últimos Wesley, pobre e também deixado a margem no grupo em que está inserido. Quando o elemento Hermione entra em cena é que a coisa toma outro rumo, já que desde as primeiras páginas fica bem claro que ela é uma garota altruísta, independente e acima do nível dos demais, o que a torna um certo estorvo em comparação aos colegas, que a desprezam e a tomam como chata. A amizade entre ambos começa num ponto em que as próprias características de cada um entram em comum numa certa harmonia. A coragem de Harry torna-se a admiração de Hermione, a inteligência dela torna-se a fuga dos problemas dos três, e quanto a Rony, pela sua lealdade e admiração, a tríade consegue ser formada num todo pelo que o enredo se torna. A graça na criação de J.K. Rowling é exatamente isso, fazer de personagens tão distintos, o ponto em comum que os une, o que é exatamente o que acontece na maioria das amizades na vida real. Não é por sermos iguais a alguém que admiramos esse outro e fazemos dele nosso amigo, mas sim as diferenças que tornam esse outro alguém um ser interessante. Bem versus Mal
Toda a saga Harry Potter é impregnada de valores que denotam o que é o bem e o que é o mal. Harry mora nunca casa cuja família o odeia, sendo repentinamente acolhido por uma escola que o adota como uma nova família; ao chegar nesse novo mundo ele precisa aprender a enxergar os amigos que o rodeiam (os bonzinhos como Rony e os vilões como Malfoy); dentro da escola o menino é visto como uma celebridade tendo como um desses olhares a repugnância e de outros a admiração, alguns professores o admiram enquanto que outros o odeiam (O que falar de Snape, por exemplo). A todo momento Harry precisa lidar com seus e os problemas dos outros, aprendendo o que é o bem, lidando com uma ameaça (daquele que não-deve-ser-nomeado) que aos poucos parece que o engolirá. Harry sempre está do lado daqueles que são menosprezados (Neville), abominando a classe mais favorecida (Os da Sonserina), como num jogo de classes em que imita a sociedade atual. Por diversos trechos dos livros J.K. Rowling joga suas críticas quanto ao mundo moderno disfarçados em pequenos momentos de aprendizado que ela quer transmitir aos seus leitores, principalmente nesse livro em que boa parte deles são jovens em início de formação. De maneira alguma quero dizer que Harry Potter passa a ser um livro político, pelo contrário, mas sim mostrar que as ideologias de um autor sempre transparecem em sua obra, mesmo que de forma subliminar como acontece em Harry Potter. Não é à toa que Harry Potter imita a vida: É necessário se passar num processo para entrar numa casa (Vestibular?), é necessário estar numa casa dentro da escola (Classe social?), apenas quem não quer a pedra filosofal é que consegue tê-la (Visão de sonho?). São simples e poderosos reflexos que mostram que até mesmo as obras fictícias estão impregnadas de valores sociais. E não acaba somente por ai, existem diversos outros temas a serem abordados, isso sem falar nas temáticas que envolvem o próprio imaginário do mundo de Harry Potter. A releitura da saga me abriu os olhos para um nova possibilidade de enxergar o livro, o que facilitou o processo de entender, dessa vez, um pouco de seu processo de criação. Convido a vocês também fazerem o mesmo, pegar os livros parados em sua estante e olharem, não somente com os olhos de fã e leitor, mas sim também com um olhar um pouco critico para entender mais sobre esse fascinante mundo. Em breve volto com mais conteúdo sobre não somente esse livro, mas todos os outros sete que compõem esse mágico enrendo. Por Rodolfo Vilar NAVEGUE POR CATEGORIAS!Para facilitar sua procura, busque abaixo na lista o nome do autor que você procura. AUTORES
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April 2021
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