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O amor nos tempos do Cólera (Ou a reconciliação com Gabo) | Gabriel García Márquez.

10/3/2017

 
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Há muito tempo atrás, e por falar em tempo dedico este post em memória ao amigo Tágore do qual passava altas horas falando comigo sobre Gabo, eu lia Cem anos de Solidão. Mas acontece que Cem anos de solidão foi uma experiência controversa para mim, já que em meio a sua leitura eu me encontrava afogado de anotações, árvores genealógicas e dezenas de nomes sem sentido que boiavam na minha frente. Ter a primeira experiência com Gabo através desse livro foi uma tragédia, já que, enquanto muitos elogiavam o livro e sua complexidade de leitura, eu me sentia perdido num enredo desconexo e mesmo assim dizia que sim, a leitura havia sido maravilhosa. Bulhufas. Cem anos de solidão tornou-se para mim um livro complicado com os anos, assim como tantos outros livros que passavam pela minha mão e se tornam aquele tipo de livro que não merece apenas uma leitura, já que está carregado de uma maneira especifica de o apreciar (da mesma forma Grande Sertão Veredas, Graça Infinita, Guerra dos tronos e etc..). Sendo assim, ler Gabo tornou-se um estigma, já que o fato da complicância de Cem anos de Solidão o bloqueou por um bom período de tempo, até essa semana passada, quando me deparei com O amor nos Tempos do Cólera e essa perspectivava mudou. 

O amor nos Tempos do Cólera, diferente de Cem anos de solidão, tem um enredo mais enxuto, mais sólido, girando ao redor de poucos personagens que duram um tempo enorme para desenvolverem e criarem um objetivo, o que para mim não é um ponto negativo, já que histórias com desenvolvimento é comigo mesmo. Assim como a maioria dos seus livros, Gabo traz um enredo totalmente regionalista a partir das características de uma Colômbia mais rural e Coronelista, já que a maioria dos seus personagens estão centralizados num pequeno povoado onde o poder dos ricos é a significância de status e domínio sobre os mais pobres, além é claro, de mostrar todas as características positivas e negativas de uma cidade do interior. Nas primeiras páginas acompanhamos o trabalho do Doutor Urbino, um médico reconhecido pela sua fama e fortuna, que recentemente recebe a noticia da morte de um dos seus amigos, O curioso é que nas primeiras páginas somos tomados por um carisma com tal personagem ao ponto de, no decorrer da história, nos perguntarmos se esse mesmo carisma ainda prevalece após conhecer mais profundamente tal personagem. Fora o Doutor Urbino, conhecemos sua esposa Fermina Daza, uma mulher a frente do seu tempo e que inevitavelmente é perseguida por um amor do seu passado: Florentino Ariza. Sendo assim, durante o livro somos convidados a conhecer esses três personagens que orbitam ao redor de um único tema, o amor universal e transcendente. 

O título do livro, esse que mais me chamou a atenção, faz referência ao período de tempo em que o país esteve infestado pela epidemia de cólera que assolou principalmente nos regimes de guerra que aconteciam no fim do seculo XVIII,  é essa doença, somada com outra doença (o amor), que impregna as páginas do romance, já que o autor irá explanar várias temas que levam a essas assuntos, não somente o amor como sentimento, mas sim um amor que transborda a linha do consciente, já que em vários momentos acompanhamos as consequências deste em seus personagens, os fazendo cometer loucuras que dão rumos ao desfecho do livro. Por se tratar de um livro mais maduro também, a morte é constantemente citada em vários estágios, não somente como o fim para a vida, mas também como método de alívio para alguns males. Por conta da idade, Gabo deve ter tido vários momentos de contemplação sobre ao assunto, principalmente sobre a velhice, já que em parte do livro a vemos, a velhice, como um personagem a parte que modifica os seus outros personagens.  O tempo que apenas não passa e deixa marcas, mas que também ensina o homem a adaptar-se ao seu modo de viver, mostrando que ainda é possível amar, sonhar e viver a cada dia de uma forma diferente. 

Por isso que ao fim da leitura de O Amor nos Tempos do Cólera, me senti de amizade refeita com Gabo, uma vez que ele mostrou que além de suas primeiras dificuldades ao ler sua primeira obra, ele também é capaz de nos mostrar temas tão importantes como o amor no seu mais perfeito estado: a infinitude. 


​Rodolfo Vilar

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