BIBLIOTECA
O Labirinto torna-se complexo ao ponto em que mais nos adentramos dentro dele. Sao voltas e mais voltas dentro de uma complexa construcao de estruturas elaboradas para nos desviar a atencao, ou melhor, nos guiar ao destino concreto do entendimento. Labirintos que levam a outros labirintos. A construcao de Jorge Luis Borges que aqui se apresenta como um sopro de inspiracao para Saramago, que utilizou da ideia do labirinto para dar vida a sua obra.
Todos os nomes, romance de Saramago escrito em 1997, e um romance linear que trata sobre a vida pacata do Sr. Jose, um empregado da Conservatoria Geral do Registro Civil, que tem como robe colecionar noticias sobre celebridades locais em seu pequeno caderno de colagens. Porem, durante um dia em que ja comeca sair de sua vida pacata, o Sr. Jose se depara com o registro de uma mulher desconhecida incompleto, o que o motiva a procurar mais informacoes sobre essa pessoa tao peculiar. E a busca pela identidade dessa mulher que leva o pacato funcionario a cometer terriveis loucuras apenas para satisfazer uma curiosidade. Como o proprio titulo do livro ja diz, Todos os nomes e uma grande metafora sobre a profundidade do nome que cada um carrega, o peso do significado daquilo que carregamos, o que de certa forma tambem e uma metafora sobre a forma como os escritores brincam com a criacao de personagens. Nesse romance nos perguntamos o porque da curiosidade do Sr. Jose na busca pela mulher desconhecida, o que o faz sair de sua comodidade e vida comoda para correr riscos por algo tao banal como sua propria curiosidade. Ta ai mais uma vez Saramago usando de seus personagens para mostrar o quanto sair do senso comum e da mesmice provocam aventuras e desperta o verdadeiro ser dentro do personagem. Todos os Nomes mostra a relacao do nome que carregamos com o destino a ser tracado, nos despertando para a duvida "Somos mais do que nomes". Alem disso o livro e uma constante brincadeira do destino, onde Saramago usa do verbo para dar vida e acao ao seus personagens, o colocando num labirinto de escolhas e descisoes. E o labirinto o grande personagem desse livro. E ele que esta presente quando somos inseridos dentro da enorme Conservatoria Geral, massacrados pelo peso de centenas de registros de nascimento, casamento e morte, a propria vida tecendo o seu labirinto, principalmente quando o personagem percorre a cidade, sua casa, a escola e o cemiterio, transformando tais cenarios em ciclos de nossa propria vida (Nascer, crescer, estudar, casar e morrer). Alem disso o livro e cheio de outras caracteristicas, como a paixao que Saramago exerce ao criar cenas que nao existem, brincando com o verbo e tendo total dominio sobre seus personagens. Outra grande critica levantada e a relacao de subordinacao entre funcionario e chefe, fazendo da interacao mais uma dominacao que um verdadeiro processo que leva ao pleno trabalho. Por fim, nao poderia deixar de citar O Teto, que surge como um dos melhores personagens do livro, ainda mais com um grande significado filosofico. Ler Todos os nomes foi uma experiencia unica! Pena o livro ser tao esquecido, ate mesmo por aqueles que sao fas da obra do Saramago, ja que ele traz grande questionamentos sobre o existir, o destino e nossas acoes em conjunto. Deem uma chance a essa pequena grande obra e desvende o labirinto de nossas escolhas. Por Rodolfo Vilar
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O livro dos conselhos nos diz Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara. Um conselho tão simples, tão minimalista que chega a nos causar um certo desconforto. Como é possível enxergar além do que já estamos vendo? A verdade é que o nosso enxergar já é um modo incurável de cegueira. É uma doença que nos contagiou na atual modernidade, uma cegueira que não nos deixa enxergar o hoje, o humano, o físico, o necessário. Uma cegueira que nos deixa além da brancura de nossa verdadeira alma.
Durante uma visita ao Brasil em que José Saramago participou de uma sabatina promovida pela Folha de São Paulo, a imprensa perguntou-lhe sobre o motivo de ter escrito o livro Ensaio sobre a cegueira. Em resposta a essa pergunta, Saramago pensou e respondeu que a ideia para o livro surgiu quando ele estava almoçando no seu cotidiano num dos principais restaurantes em Lisboa, quando lhe surgiu a mente o pensamento: “E se ficássemos todos cegos?”, quando ele percebeu que já tinha a resposta para essa pergunta: “Mas nós já estamos todos cegos de certa maneira”. Foi com esse pensamento um tanto profundo e filosófico que José Saramago escreveu o livro considerado mais perfeito de sua carreira, dando inicio a uma fase diferente em suas temáticas abordadas em meio a literatura e aos próprios livros anteriores, já que segundo o próprio autor, ele “deixou de tratar sobre a superfície da pedra e agora tenta entender o seu interior”, dando referência que a partir de então passará a tratar da profundidade do entendimento humano a cerca do seu papel na sociedade, essa que vem sendo dilacerada por sérios conflitos existenciais e de sua modernidade. Ensaio sobre a cegueira começa quando um sujeito em pleno trânsito de uma capital barulhenta encontra-se cego no caos automobilístico da selva de pedra. Uma “cegueira branca” lhe acomete e o sujeito passa a sentir-se “como num mar de leite” sem enxergar nada que esteja a sua volta. Ao decorrer das páginas, percebemos que o mesmo sintoma passa a ser transmitido a milhares de outros sujeitos por toda a cidade, sendo então percebido que uma determinada doença está a atacar a população mundial. O que resta fazer? Colocar todos os infectados num tipo de quarentena, para que então seja estudado o que poderá se fazer, além é claro, de evitar o contágio com aqueles que não contraíram o mal. Sendo assim, centenas de pessoas são levadas a isolar-se num manicômio, único lugar possível para separar os cegos dos não cegos, e tentar uma possível solução para o problema. Porém, como plot principal da história, acontece de uma não-cega, por vontade própria querer acompanhar o seu marido, que é medico dos olhos e passa a ser quase que uma piada para o grupo. Em meio ao caos, a mulher do médico, que não está cega, passa a perceber o mundo com outros olhos, enxergando aquilo que não queria enxergar e ajudando aos que faltam dos olhos a sobreviver em meio a barbárie que inicia-se nesse novo mundo. O livro é cheio de pontos altos. Um deles é a não existência de nomes para seus personagens, sendo todos eles tratados pelo adjetivo do qual nós os conhecemos em ação. Sendo então a mulher do medico como personagem central e outros que circularão ao seu redor: Seu marido, o primeiro cego, o velho da venda, a rapariga de óculos escuros, o cão das lágrimas e etc.. Uma leve piada que Saramago mostrará ao seus leitores, levando a personagens tão peculiares a se desenvolverem em sua trama de uma maneira única e excêntrica, nos mostrando que os olhos apenas são um acessório para uma ilusão, sendo necessário enxergar além disso. Saramago nunca havia me deixado desconfortável em seus livros, mas nesse ele conseguiu, uma vez que somos levados ao estado primitivo do homem como verdadeiro animal que é. São cenas extremamente ilícitas, grotescas e que causam asco. Verdadeiramente eu deixei o livro de lado em alguns momentos, apenas para conseguir me recompor do estado de choque em que me encontrei. São fortíssimas reflexões que nos abalarão completamente em nosso estado de inocência, nos fazendo regredir ao estado primitivo e nos perguntando “que tipo de ser humano eu sou?”. Marcando uma nova forma de importância a sua literatura, Saramago consegue não somente se renovar em suas temáticas, mas também transformar leitores em indivíduos pensantes e críticos. Por Rodolfo Vilar. NAVEGUE POR CATEGORIAS!Para facilitar sua procura, busque abaixo na lista o nome do autor que você procura. AUTORES
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April 2021
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