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Fahrenheit 451: Uma profecia? | Fahrenheit 451 - Ray Bradbury

9/13/2018

 
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Estamos no século XXI. A tecnologia é a grande tendência da comunicação atual, onde não mais enviamos cartas, não nos comunicamos pessoalmente e somos cada vez mais reduzidos a virtualidade. Ficou fácil comunicar-se com quem está do outro lado do mundo, ficou mais fácil ser aceito pelos demais, já que basta apenas uma foto pré-editada, calculada milimetricamente antes de ser postada, para que milhares de pessoas possam curtir a realidade que se quer transmitir, sendo muita das vezes essa realidade uma falsidade. Fake news circulam de maneira muita mais veloz pelo globo, e o pior, as pessoas acreditam nelas, já que as mesmas pessoas criam uma preguiça tremenda só em pensar em pesquisar a verdade em jornais ou livros. Tudo fica mais fácil quando se resumem as mídias em vídeos ou posts de 15 segundos. Tudo fica mais fácil quando se pode apenas apertar um botão e ver milhares de opiniões pelo Youtube ou outros diversos canais. A modernidade liquida tornou o mundo cada vez mais fácil de ser aceito e compartilhado. Os livros, a cultura, a política, os pensamentos críticos, tornaram-se monstros que cada vez mais são difíceis de serem discutidos. Parece que tudo isso faz parte de um livro de ficção cientifica, mas não é, é a realidade que Ray Bradbury prefetiu em seu livro, escrito em 1953, mas que tornou-se realidade sob a luz dos nossos tempos modernos.
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Ray Bradbury em 1953 dá a luz a Fahrenheit 451, que ironicamente é a temperatura na qual o papel pega fogo. O livro, que trata-se de uma distopia, parece até profético se lido nos dias atuais, já que tão espantosamente fala sobre as consequências da crítica e da consciência humana estarem resumidas ao consumo rápido e veloz de nossa atualidade. Em Fahrenheit 451 conhecemos um mundo distopico que se passa numa sociedade dominada pelas mídias sociais, principalmente a TV, onde as pessoas interagem com imagens digitais para sua diversão e convívio. Os livros nesse mundo são abolidos já que não mais se necessita de lê-los. A cultura tornou-se algo a ser controlado, já que ninguém mais precisa do senso crítico para libertar a sua mente. Para que lê livros maçantes se podemos assistir um filme? Para que ver filmes se podemos ler um resumo sobre a obra? Para que ler o resumo se podemos ir num dicionário e encontrar um verbete sobre o mesmo? O entretenimento de consumo rápido é a onda do sucesso. Em meio a esse mundo caótico conhecemos Guy Montag, um bombeiro que não mais apaga incêndios, mas sim os produz, já que é terminantemente proibido ter livros ou jornais em casa. A nossa aventura começa quando esse mesmo bombeiro está cansado de sua realidade e rebela-se contra o próprio sistema no qual trabalha.

Na construção do enredo, percebemos que as ações dos personagens são bem reduzidas de sentimentalidade e afeto, o que denota a primeira crítica do autor com relação ao uso das tecnologias e suas consequências. A tecnologia aqui foi construída em consequência da exploração das massas e a pressão das minorias que levaram ao alto uso da comunicação de massas. Como consequência a esse uso intenso das tecnologias, os indivíduos passam a utilizar imagens estereotipadas, assim como a redução da linguagem e o descarte do uso dos livros, já que eles causavam no individuo o despertar do senso crítico, o que para a maioria é tida como algo ruim. Se essas críticas não forem uma previsão tão acertada de nossa realidade eu não sei mais o que pode ser. Bradbury não somente profetiza a nossa sociedade atual como também deixa explicito no que nos tornamos: Humanos viciados em tecnologia, que passa horas preso as telas dos smartphones, usando a linguagem já tão pobre e resumida para comunicação e esquecendo da nossa “antiga” cultura que baseia-se no físico, na leitura, na visita aos museus ou simplesmente ao contato físico.
A aventura dentro da história de Bradbury começa no ponto em que o personagem principal, o Montag, enfrenta pela primeira vez o choque da realidade do sistema em contato com a Clarisse, uma personagem tida como louca, em que começa a conversar com o Montag não sobre os programas de TV que todos são obrigados a assistir, não sobre o mundo no qual são inseridos, mas sim sobre coisas banais como o clima, andar na chuva, caminhar sobre os trilhos, o que desperta no Montag o senso para a realidade no qual ele se vê tão afastado. O que assusta na construção na história de Fahrenheit 451, é que os personagens orbitam no mundo criado pelo autor não de forma opressora, obrigados a viver como que presas aquilo, mas sim vivem por vontade própria, não conseguindo enxergar na própria prisão em que vivem, meio como a nossa realidade atual, em que vivemos presos aos problemas que nos assolam mas não fazemos nada para mudar a realidade. No mundo de Bradbury as pessoas buscam apenas o prazer próprio, por isso eles estão desabituadas a ler livros. “Para que ler livros se irei me sentir triste ou revoltado se ler isso?” é o que eles se perguntam. Daí então o porquê da abolição dessa cultura.

O final do livro, que conta com um teor um tanto metafórico, é a maior genialidade já construída na literatura. Se pudéssemos passaríamos horas discutindo os diversos pontos críticos no qual o livro aborda. Não somente a discussão sobre o uso de tecnologia intensa, a quebra da cultura como ancora de inteligência, mas sim também o próprio rumo no qual a humanidade dá ao convívio em grupo. Fahrenheit 451 é tido como a tríade da literatura distopica que explica os relacionamentos humanos, estando ao lado de livros como 1984 de George Orell e Admirável Mundo novo de Aldous Huxley. São livros como esses que nos abrem os olhos para a modernidade que a cada vez estamos mais inseridos e que foram profetizados a mais de meio século atrás. A leitura é obrigatório e nos deixa críticos a debater sobre nós mesmos e o mundo no qual vivemos. 

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Por Rodolfo Vilar
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