BIBLIOTECA
Mas que coisa mais estranha é essa? Pergunta minha mãe quando folheia o recente livro que chega a minha biblioteca durante essa semana. É apenas um livro com temática erótica, mãe, digo eu tentando explicar a essência do livro em si, uma mera superficialidade da obra que não diz nada mais profundo e poético sobre ela. É com esse insight que eu tenho a minha primeira concepção sobre A História do Olho de George Bataille, que muitas pessoas, assim como eu próprio tive, julgam o livro apenas por sua primeira aparência erótica, fazendo desse clássico francês um mero e fino romance retirado das nuances loucas de um autor sem sentido. A história do olho é muito mais que um livro erótico. Publicado em 1928 sob o pseudônimo de Lorde Aunch, já que George Bataille pensava querer preservar sua integridade quanto a funcionário do estado e membro de uma sociedade conservadora, o livro nada mais é que uma quase autobiografia, mesclada pelo processo psicanalista de suas sessões com o intuito de libertar os seus traumas através de seus sonhos e delírios sexuais, o que provou para a literatura que muitos clássicos dependem da entrega total de seu autor no processo de criação, o que para George Bataille foi realmente um cano de escape e o ajudou a afastar muitos de seus demônios. Muitos dos símbolos descritos dentro da história são traços biográficos de Bataille, que quando pequeno sofria as dores do pai, um senhor com uma doença terminal e que o fazia sentir certo tipo de asco e repulsa. O trauma causado pelo seu pai durante a infância vem à tona sob a forma de aventuras e personagens dentro da História do Olho, uma narrativa em primeira pessoa que leva o leitor a embrenhar-se por estranhas e complexas aventuras sexuais de dois jovens em busca pelo sentido do prazer e da liberdade. O enredo é complexo no sentido de que a história ultrapassa o fantasioso, já que se trata de dois jovens (saindo da infância e passando para a juventude), conhecendo e usando de seus desejos para chegarem a certo tipo de satisfação sexual. Os adultos, esses quando aparecem na história, parecem estar num segundo plano, não importando-se com os atos praticados ou a ética do sentido, confirmando a noção da história estar inserida num plano diferente, já que a própria voz do narrador, tida como participante da história e em primeira pessoa, nos faz julgar tratar-se de uma narrativa não fiável dos fatos. Há momentos em que a representatividade da biografia do autor através dos símbolos ultrapassa a nossa sensibilidade e entendimento. A poética de certos trechos torna-se fabulosa, fazendo da filosofia empregada no texto, já que Bataille era um leitor ávido de Nietsche e Zola, uma concepção de literatura fora dos padrões da época. O sentido final da história, quando as peças do quebra cabeça se encaixam, apenas dá-se num capítulo especifico quando Bataille, num pós edição, deixa claro o sentido da subliminaridade de sua literatura. Ler a História do Olho é conhecer todo um processo criativo que culminou numa grande obra de sua época. O relançamento do livro pela Companhia das letras apenas reforça o sentido que os seus leitores mantém sobre a importância de um romance como esse ainda continuar em circulação. Bataille foi um gênio de sua época com seu próprio estilo, o que desencadearia diversos outros autores a o usarem como técnica e fonte de inspiração, Um livro obrigatório para os verdadeiros amantes de erotismo com conteúdo profundo. Por Rodolfo Vilar
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April 2021
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