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AVENTURA I | A ODISSEIA DE HOMERO

5/12/2018

 
Atenção! O texto pode conter revelações sobre a obra. 

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A primeira coisa que eu tenho a dizer é que ler a Odisseia não é difícil como eu imaginava ou ouvia dizer que fosse, muito pelo contrário. A leitura do clássico é apenas a leitura de um grande poema, que assim como Morte e vida Severina, retratando o seu povo e seus costumes, do mesmo jeito dá-se na Odisseia. Do começo ao fim dos capítulos é retratado as aflições de seus personagens, os costumes de um povo e as aventuras dos mortais e imortais. Tudo isso me toca como se ao ler tais coisas uma brecha fosse aberta em minha memória, fazendo renascer o antigo interesse por aventuras epopeias e a paixão pela cultura grega. 

O que falarei aqui será um pouco sobre as aventuras de Odisseu que busca chegar em casa e estar com sua família. Para aqueles que nunca leram a Odisseia, com certeza receberão um pouco de spoiler ao ler a forma como destrincho os cantos e como comento alguns aspectos de sua construção A única forma de evitar isso, é claro, lendo conosco o grande clássico de Homero. Puxe aquele seu velho exemplar da estante e venha conosco descobrir um pouco mais sobre. 

SOBRE O ENREDO:
​

Canto I:  Ao começar da história não nos deparamos de cara com o personagem Odisseu, o que de certa forma é estranho, mas esclarece muito, já que o enredo da história será construído por diversos ângulos de percepção. Logo no primeiro canto somos apresentados a alguns deuses, no Monte Olimpo, onde Atena indaga aos outros seus companheiros as motivações para que esses não estejam ajudando Odisseu em seu regresso. Zeus, dono da verdade e do tempo, fica perturbado com aquela indagação de sua filha e considera a possibilidade de ajudar o mortal a voltar para sua terra Natal, já que nem ele mesmo entende o real motivo desse personagem ter criado tanta ira nos outros seus irmãos e filhos. É nesse momento, através d aflição da deusa Atenas, que descobrimos que Odisseu está em apuros e precisa voltar para o lar, para junto de sua família, já que passou por diversos apuros e aventuras. Desde as primeiras linhas fica claro o apreço que Atena tem pelo mortal e que será exatamente ela que estará ao seu lado nesse regresso. Sendo assim, e também disfarçada de um simples plebeu, é que chegamos junto com ela a casa de Penélope, esposa de Odisseu. Chegando ao lar do personagem que lá já não mais pertence, a deusa conversa com Telêmaco, filho de Odisseu. Atena deixa bem claro, tanto para tirar as aflições do filho que não sabe o paradeiro do pai, que Odisseu está sim vivo e tenta voltar para casa.  Seduzindo Telêmaco, a deusa pede para que ele parta em busca de notícias do pai, além de falar aos pretendentes de Penélope, que achando que ela está viúva a querem desposá-la, que saiam de sua casa e procurem um novo rumo. Nesse primeiro canto, descobrimos que alguns deuses estão a favor do regresso de Odisseu, além é claro da própria família dele estar ansioso pelo seu regresso.

Canto II: Durante todos os momentos em que Penélope aparece na história ela está triste, abatida, sofrendo com seus pretendentes ou subjugada por aqueles que a veem como causadora dos males que acometem a sua casa. Se sua casa está cheia de pretendentes é porque ela não decide logo desposar alguém, além é claro, de sua decisão em aceitar de antemão que seu marido está morto. Telêmaco fica preocupado com a situação dos pretendentes estarem bebendo, comendo e acabando com as economias da casa. Com isso, guiado por Atena, ele reúne-se em assembleia e avisa que irá viajar a procura de notícias do pai, fazendo com que os pretendentes fiquem preocupados que ele esteja preparando algo contra eles, um árdil. Durante a noite Atena o ajuda a conseguir um Nau e companheiros para a viagem. Atena já deixa bem claro que os pretendentes de Penélope terão, todos, um fim terrível.

Canto III: Após partir de sua terra, Telêmaco chega às terras de Nestor, companheiro de Odisseu na guerra de Tróia, onde lhe conta sobre os regressos dos seus outros companheiros, assim como o fim de cada um deles, da mesma forma como seus filhos obtiveram justiça pela morte dos pais. Nestor, embebido pelo poder de Atena, deseja que Telêmaco consiga seu destino de encontrar o pai.

Canto IV: Indo em outro destino, Telêmaco chega até os reinos de Menelau, onde escuta desse as aventuras que sofreu para voltar para casa, sabendo de um deus que seu amigo Odisseu está vivo e enclausurado pela Ninfa Calipso. Na casa de Penélope os pretendentes planejam algo contra Telêmaco ou acham que este partiu e terá um destino incerto, deixando a casa e sua mãe ao destino de suas escolhas. Mais uma vez Atena acalma Penélope sobre a partida de seu filho, está que fica abalada por esse fato.

Canto V: Após partir dos encontros com Penelope e Telêmaco, Atena volta ao Olimpo, onde conversa com seu pai, Zeus, e pede ao deus, senhor dos Raios, que tenha pena de Odisseu e o ajude a voltar para casa. Piedoso, Zeus promete a Atena não se intrometer mais no retorno de Odisseu, e que essa o ajudará a voltar para casa. Além disso Zeus pede a Hermes que vá até a ilha da Ninfa Calipso e diga-lhe para libertar Odisseu, fazendo com que essa o liberte mesmo de mau grado. Ajudado pela Ninfa que o ajuda a construir um barco, Odisseu entrar no mar revoltoso de Poseidon, seu inimigo, e tenta seu regresso para casa, já que agora ajudado por Atena ele consegue obstruir o poder dos mares do seu regente. Após uma tempestade, Odisseu consegue cruzar boa parte do mar, onde cansado dorme sobre rochas com o sono de Atena.

Canto VI: Por fim Odisseu descobre que chegou a terra dos Fenícios, onde a deusa Atena faz com que Nausicaa leve ele ao seu pai, ajudando-o na jornada para casa.
ASPECTOS DA HISTÓRIA:

É bem claro a relação entre homens e religião, principalmente na cultura grega, onde todos os fatos e acontecimentos estão intrinsecamente relacionados as divindades. Na leitura desses primeiros contos é a deusa Atena que altera de forma singular o novo destino de Odisseu, já que anteriormente era o próprio Poseidon que o levou ao destino atual de perder-se de casa. A relação entre o desejo dos homens ser explicada pela sua fé em deuses, forças da natureza ou poderes misticos ainda se perpetua até hoje nos dias atuais, como por exemplo quando queremos muito que algo aconteça, como conseguir um melhor emprego, e dizemos "Que seja feita a vontade de Deus". Tudo bem que boa parte dos fatos da Odisseia acontecerem se dão porque alguns desses deuses são os próprios personagens do enredo, mas isso apenas equivale a um reflexo da própria cultura ocidental que foi e sempre será marcada pela presença de sua antiga religião. É na Odisseia que enxergamos os deuses representados, como donos das linhas de destino dos personagens que conhecemos, sendo eles mesmos que brincam feito crianças com o destino de seus adoradores. 

O papel da mulher nas histórias clássicas são os mais predominantes casos de dominância e culpabilidade. Como eu falei no canto II, Penélope vê-se culpada pelo destino que a assola, já que sem escolhas não sabe qual paradeiro de seu marido Odisseu e precisa, com todas as suas forças e artimanhas, ludibriar os pretendentes que a perseguem. Dentro da Odisseia a mulher não tem outra escolha que não sentar, chorar a sua dor e aceitar que mais uma vez os deuses a ajudam a sair de tal situação. No enredo de Homero, a mulher tem um papel específico que não é vista como uma heroína, mas também não significa que ela não tem um papel de importância, já que mais a frente veremos como a força e determinação de Penélope são importantes. 

Nos quatro primeiros cantos da Odisseia somos inseridos na história através da perspectiva do lar de Telêmaco, onde é a sua partida em procura de notícias do pai que nos leva até onde Odisseu se encontra. São esses diversos aspectos da história que nos faz enxergar a Odisseia não somente como um grande poema grego, mas sim como uma verdadeira aventura através da profundidade de suas linhas. 

E vocês? Que acharam desses primeiros cantos do poema? Deixe aqui em baixo seu comentário sobre seu ponto de vista e o que mais está gostando da história. Boa leitura é até a próxima! 


​Por Rodolfo Vilar
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